O que significa a “guerra” do governo Alckmin contra os estudantes. Por Mauro Donato

Atualizado em 30 de novembro de 2015 às 16:23

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Um áudio capturado pelo site Jornalistas Livres durante a reunião realizada entre o chefe de gabinete do Secretário de Educação de São Paulo e 40 dirigentes de ensino revelou que está declarada guerra às ocupações de escolas e determina que o decreto que oficializa a reorganização do ensino paulista será publicado amanhã. Na reunião, fica explícita a estratégia de ação direta em cada escola ocupada.

Como os estudantes enfrentarão isso? Há pelo menos dois pontos a serem observados.

Primeiro: o governo alega estar aberto ao diálogo com a população, mas em meio aos protestos e ocupações irá publicar o decreto e estamos conversados;

Segundo: governo, dirigentes, secretário, chefe de gabinete e tucanos em geral insistem em denunciar que há partidos políticos e movimentos sociais controlando essas ocupações mas é ele quem assumidamente se utiliza do recurso.

O Movimento Ação Popular, composto em sua maior parte por filiados e ligados à juventude do PSDB, esteve visitando escolas na busca por desmobilizar as ocupações. Vinham com o papinho de “trocar ideia” quando o que desejavam era desencorajar os adolescentes ao alegar a perda de ano, os benefícios da reorganização etc.

É um grupelho criado recentemente que tem sua página recheada de fotos, vídeos e posts contra Lula e Dilma. Na capa, uma frase de FHC: “Lutamos, não para ganhar no dia seguinte mas para oferecer um horizonte de alternativas” (desculpe, meninos, mas quem faz isso são os alunos que estão ocupando as escolas mesmo aqueles para quem estavam faltando poucas semanas para concluir o ensino médio).

Na manhã de hoje todas as escolas estavam mobilizadas e em estado de alerta para novas e prováveis investidas. O DCM não teve autorização para entrar na Godofredo Furtado e foi informado que ninguém além de estudantes entraria em unidade nenhuma. O professor Luiz Carlos de Melo também estava do lado de fora.

“Concordo, o protagonismo é deles, o que estamos tentando assegurar é a horizontalidade porque há coletivos ligados a partidos que estão buscando ocupar os espaços e dirigir o caminho da luta. Mas o protagonismo é deles, os estudantes têm preparo suficiente para isso, ninguém precisa dar direção, apenas apoio”, disse Melo.

Ele é professor da escola Raul Fonseca e foi agredido e detido pela PM em outubro no primeiro grande protesto dos estudantes na avenida Paulista contra e reorganização. Estava ali para dar um apoio mas ao mesmo tempo não parecia preocupado com a declaração de guerra do dia anterior. “Ontem ficou evidente que eles subestimam a inteligência dos alunos, não acreditam que eles tenham capacidade de se organizar e fazer alguma coisa”, afirma.

A ideia governista é uma alternativa às reintegrações na base da força, desaconselhadas inclusive pelo Secretário de Segurança. O confronto traria um desgaste gigante, um prejuízo político imenso. Mas o teatro de ‘buscar o diálogo’, não ser recebido e depois alegar que a inflexibilidade veio da parte dos alunos é mambembe. A rigidez sempre esteve do lado do governo e da Secretaria de Educação, que não aceitou nenhuma condição apresentada pelos estudantes até agora e só não jogou a PM em cima graças às derrubadas de mandados na justiça.

Já passam de duzentas as escolas ocupadas e esse número não para de crescer. “O movimento é forte porque conta não só com alunos mas com professores e pais de alunos. O que eles fizeram foi não consultar os interessados e é uma reforma que visa economizar recursos”, disse o deputado Ivan Valente ao DCM na sexta-feira, dia em que professores tomavam a avenida Paulista em apoio aos estudantes no qual a meta de 500 escolas foi estabelecida caso o governo permaneça irredutível.

Enquanto eu aguardava um contato com os porta-vozes da escola Godofredo Furtado, um grupo de estudantes fechava o cruzamento das avenidas Rebouças e Faria Lima. Um recado de que as ocupações podem não mais ficar restritas aos muros das escolas.