O que significa a Bolsa de Valores desabar sempre que Dilma cresce nas pesquisas?

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 12:59
A Bolsa
A Bolsa

O que significa a Bolsa de Valores desabar a cada momento que parece mais provável a vitória de Dilma?

Imagino que o BM, o Brasileiro Médio, se faça essa pergunta diante das repetidas notícias de queda na Bolsa.

A resposta é: é um problemão para quem tem dinheiro aplicado na Bolsa de Valores, uma fração insignificante da sociedade.

A Bolsa brasileira sempre foi irrelevante. Poucas empresas, ao longo dos tempos, decidiram abrir seu capital.

Na mídia, por exemplo, que não para de noticiar agora a instabilidade das ações, nenhuma grande empresa foi para a Bolsa.

A visão hostil em relação à Bolsa faz parte da cultura nacional, pouco disposta ao risco. Fora isso, há investimentos seguros que pagam altas – em certos momentos altíssimas – taxas de juros.

Suponha que, numa virada sensacional, a Bolsa começasse a bater recordes. Mais uma vez: não significaria nada para o BM.

O BM não come ações.

Em compensação, alguns especuladores ganhariam muito dinheiro.

Por trás do noticiário catastrofista, está uma tentativa de intimidar o eleitor assustadiço e convencê-lo a votar no “candidato do mercado”, Aécio.

As pesquisas mostram que o BM não é o idiota que alguns pensam que é.

Pressões baseadas no apocalipse são comuns. Numa clássica, o então presidente da Fiesp, Mário Amatto, disse que 800 000 empresários deixariam o país caso Lula vencesse as eleições de 1990.

O “mercado” se agitou também em 2002, diante da iminência da vitória de Lula. Lula piscou, e disso nasceu a Carta aos Brasileiros, na qual o PT se comprometeu a seguir a essência da política econômica de FHC.

Quer dizer: o PT abdicava, ali, de ser um partido de esquerda. Começava um movimento que levaria o partido ao centro, ou à centro-esquerda.

(Um efeito colateral dessa caminhada do PT rumo ao centro foi a transformação do PSDB num partido de direita.)

O terrorismo econômico de 2014 não é muito diferente do de 1989, e nem do de 2002.

O que se deseja, a rigor, é que Dilma se comprometa com uma agenda da qual o “mercado” goste.

Lula parece ter aprendido, pelo que ele fala agora, que no fundo se trata de mais um blefe. Não era verdade que 800 mil empresários debandariam, e nem que o Brasil entraria em colapso se não fosse seguida a receita ortodoxa de FHC em 2002.

Mais uma vez, o que temos é o 1% sempre querendo manipular os 99%: a rigor, não é mais nem menos que isso.

Durante muitos anos, na ditadura militar e depois mesmo no governo FHC, os brasileiros foram enganados com o argumento de que era preciso fazer o bolo – a economia – crescer para depois distribuí-lo.

O bolo cresceu e, como mostram os dados da desigualdade, jamais foi distribuído decentemente por sucessivas administrações.

Num mundo menos imperfeito, a mídia teria cobrado duramente ações para fazer do Brasil um país menos abjetamente injusto.

Mas não.

A imprensa nunca fez do combate à iniquidade uma causa, porque se beneficiou da desigualdade. Os donos das empresas de jornalismo acabaram figurando entre as pessoas mais ricas do Brasil.

A melhor atitude que o BM, o Brasileiro Médio, deve tomar diante das trepidações da Bolsa é ignorá-las.

De alguma forma, pode até respirar aliviado. Nas presentes circunstâncias, caso a Bolsa estivesse bombando, é porque – como prometeu Aécio a um grupo de empresários no começo da sua campanha – medidas impopulares estariam ali na esquina.

E delas ninguém escapa, salvo os suspeitos de sempre, o chamado 1%.