O que é mais acintoso: as fotos de Milena ou a liberdade de Eduardo Cunha? Por Nathali Macedo

Atualizado em 27 de abril de 2016 às 9:37
Milena e
                                                                    Milena e Alessandro

O assunto da vez é o ensaio da modelo Milena Santos, que posou para fotos sensuais no gabinete de seu marido, o economista e Ministro do Turismo recém-empossado Alessandro Golombiewski Teixeira.

A indignação na internet, é claro, foi geral. Algumas pessoas estão tão indignadas que sou capaz de acreditar que não viram outras vezes o corpo nu de Milena — que, como ex Miss-Bumbum, já posou inúmeras vezes para ensaios sensuais, naturalmente.

Não devem também ter visto outras bundas de tantas outras mulheres em tantos outros ensaios sensuais. Esses cidadãos de bem, indignados com a nudez, provavelmente não acessam o Redtube e não compartilham vídeos do tipo “novinha caiu na net”. Imaculados, decerto.

Posar nua em um gabinete é desrespeitoso e fruto de auto-promoção barata, isso não se deve negar; mas o estardalhaço que se fez disso não provém do respeito à Pátria ou aos espaços formais — aliás, coisas muito mais desrespeitosas acontecem nesses chamados “ambientes sagrados” da política brasileira. Eduardo Cunha ainda põe os pés na câmara. Há algo mais desrespeitoso que isso?

Metáforas à parte, é certo que todo o estardalhaço em torno do corpo nu de Milena (que tem sido tratada apenas como “a mulher do Ministro”, mas, aqui, é chamada pelo nome e tratada como um ser humano autônomo) gira em torno da inadmissibilidade de que uma mulher vista como “vulgar” perante a respeitável sociedade brasileira, que venceu um concurso de bundas, seja agora esposa do Ministro do Turismo.

Não é a bunda que incomoda (aliás, os cidadãos de bem desse país adoram bundas!), é a posição em que Milena se coloca. Para estes “cidadãos de bem”, a figura de Milena é uma afronta ao padrão “bela, recatada e do lar.” É indigna de um homem  respeitável. É apenas uma alpinista social que só adquire valor quando “assumida” por um homem.

Ao que parece, e para a minha profunda tristeza, a própria Milena mantém esse mesmo ponto de vista equivocado. A modelo publicou em seu facebook: “Não precisam pegar fotos e falar que eu fiz no meu passado e apresentar como se fossem atuais porque não são! O único fato novo e exclusivo é que sou esposa do ministro do Turismo. O resto é conversa para boi dormir.”

É como se o fato de ser esposa de um Ministro invalidasse o seu passado. Pior ainda: é como se esse passado fosse vergonhoso, como se apenas a companhia deste homem a tornasse uma mulher digna.

No mundo das “belas, recatadas e dos lares” é exatamente assim que funciona: uma mulher só existe à sombra de seu homem. O resto é conversa pra boi dormir.

Por isso ninguém reclama do desrespeito, da desonra ao espaço público — que, convenhamos, está desonrado há algum tempo — e concentram-se apenas em denegrir a figura dessa mulher que essa mesma sociedade respeitável transformou em objeto sexual.

Milena e todas essas mulheres-fruta são produto dessa sociedade que sexualiza a figura feminina ao seu bel-prazer, para, depois, fazer questão de denegrí-la e colocá-la à margem do que é dito respeitável.

Não se pode dizer nada além do que está posto: Milena posou sensualmente no gabinete de seu marido e isso é ridículo, sim. Mas não confundamos auto-promoção com falta de valor pessoal.