O que Trump ainda pode fazer antes de deixar a Casa Branca pela porta dos fundos?

Atualizado em 9 de novembro de 2020 às 16:36
O presidente dos EUA, Donald Trump, retorna à Casa Branca depois de sair para jogar golfe – Andrew Caballero-Reynolds – 7.nov.20/AFP

Publicado no site RFI

Joe Biden deve assumir o cargo de presidente dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro. Mas até lá, Donald Trump continua à frente da primeira potência econômica mundial. Durante esse período de transição, que os americanos chamam de “lame duck” (pato manco, em tradução livre), o atual chefe da Casa Branca pode agir como quiser, inclusive se vingando de personalidades políticas ou tentando implementar medidas de última hora já que, teoricamente, não tem mais nada a perder.

Muita coisa pode acontecer entre o anúncio da eleição de um presidente dos Estados Unidos e o momento em que ele assume o cargo. Diz a lenda que durante esse período, vários objetos desaparecem misteriosamente da Casa Branca. Inclusive objetos sem nenhum valor material, como todas as letras “W” dos computadores do prédios, que teriam sido levadas pelas equipe de Bill Clinton, como uma espécie de vingança – ou travessura pueril – contra George W.Bush.

Mas além dessas anedotas, o presidente que deixa o cargo pode escolher cooperar ou complicar a vida do novo chefe de Estado. Não é raro que, liberado das amarras eleitorais, um chefe da Casa Branca aproveite esses mais de dois meses que o separam da posse para assinar decretos e implementar medidas contestadas de seu programa.

No entanto, a margem de manobra do atual chefe da Casa Branca é relativamente limitada, já que um decreto presidencial leva tempo para ser implementado e ainda pode ser contestado, o que torna a sua entrada em vigor difícil até 20 de janeiro.

Mesmo assim, o republicano pode tentar intervir nas políticas de distribuição de vacinas, caso os laboratórios consigam encontrar um medicamento eficaz até meados de janeiro. Além disso, Trump ainda tem tempo para se vingar da China, seu principal inimigo na segunda metade do mandato.

A história mostrou que alguns presidentes norte-americanos conseguiram nesses últimos dias no cargo tomar decisões que não tomariam antes da eleição, independentemente do partido político.

Steve Bannon perdoado?

Uma das medidas mais frequentes é a anistia de personalidades nos 45 minutos do segundo tempo. Foi o caso de 140 pessoas perdoadas no final do mandato de Bill Clinton e 330 nos últimos dias de Barack Obama no poder.

No caso de Trump, uma das hipóteses é que o republicano beneficie alguns de seus amigos envolvidos em processos na justiça. A imprensa americana não descarta a hipótese de que Michael Flynn, ex-conselheiro da segurança nacional acusado de envolvimento no escândalo de ingerência russa, seja perdoado. Os nomes de Steve Bannon e de Paul Manafort também são citados como possíveis beneficiários desse perdão de última hora.

Mas esse período do “lame duck” também pode ser o momento de Trump, que demitiu três chefes de gabinete em quatro anos, “acertar as contas”, se vingando de pessoas que representaram um obstáculo durante seu mandato. Entre os que podem ser visados estão o médico Anthony Fauci, que dirige a célula de crise da Casa Branca encarregada da gestão da pandemia de Covid-19 e que criticou a postura de Trump, ou ainda Christopher A. Wray, atual diretor do FBI, que se recusou a investigar a família de Biden, como desejava presidente.

O chefe dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, garante que a transição será “pacífica”. Mas Donald Trump, que até agora não aceitou a derrota, pode reservar algumas surpresas e que o “pato manco” deixe vestígios.