O que Veras, Mervais e outros poderiam aprender com o mea culpa de Felipe Neto. Por Nathalí

Atualizado em 19 de maio de 2020 às 14:04
Felipe Neto no Roda Viva

A mea culpa de Felipe Neto no Roda Viva é um suco de Brasil pós-golpe: um país reduzido ao arrependimento, à revolta ou a ambos. 

Se o bolsonarismo arrependido já é praticamente uma bandeira – levantada pelos órfãos do mito-fake-news -, o antipetismo arrependido está bem representado pelo influenciador que – segundo palavras dele no Roda Viva –  “apoiou o impeachment de Dilma Rousseff por falta de estudo e leitura, mas hoje tem outra visão política”. 

Deve ser mesmo difícil dormir à noite tendo apoiado um golpe  que resultou no monstro do bolsonarismo. 

Lá em 2016 era legal mandar Dilma tomar no c*, no YouTube ou no estádio de futebol.

A sede antipetista preguiçosamente traduzida em “fora todos eles!”  foi amplificada e endossada por Felipe Neto, que era então o mais popular exemplar de influenciador reaça.

Confrontado com o resultado desastroso de disseminar uma visão política limitada para milhões de seguidores facilmente influenciáveis, o youtuber fez a única coisa possível para um influenciador minimamente consciente de sua responsabilidade: 

“Faço mea culpa sem problema algum. Um defeito que eu não tenho é o de teimosia. Errei muito no passado, aprendi muito desses erros. Não sou adorador de um projeto petista, mas no momento do impeachment a minha colaboração, embora não fosse comparável ao alcance de hoje, sem dúvida foi utilizada a maneira errada, equivocada, por falta de leitura, estudo. Passei os últimos 4 anos tentando corrigir esse erro e usando minha força pra afastar essa opressão que vemos hoje”.

Tem gente que ainda não engole Felipe Neto – muitas vezes, internet é terra sem perdão.

E tudo bem não confiar nele ou em qualquer outro antipetista arrependido mas, convenhamos: os esforços do influenciador deveriam ser os esforços de todos aqueles que também empurraram o Brasil para um fascismo nefasto – e que agora se mostra também assassino – ao apoiarem um golpe contra a democracia, que agora – alô, Luana Piovanni? – se calam sem o menor constrangimento.

É o mínimo. Levantar-se contra o fascismo não é um favor ao Brasil, é um dever cívico – sobretudo pra quem engrossou o coro pelo golpe e abriu alas para o fascismo. 

Felipe Neto tem levado tão a sério a tarefa de minimizar as consequências de seu reacionarismo que, além de se posicionar claramente, cobra a mesma postura de seus colegas influenciadores. 

Na semana passada, postou um vídeo comprando a briga e dizendo o que todo mundo, afinal, gostaria de dizer aos artistas e influenciadores isentões:  “Acabou a passada de pano. Influenciador que não se manifesta agora é cúmplice”

“F*da-se a vida”, diria Pugliesi.

Não só os influenciadores, mas também o bolsonarismo arrependido e o antipetismo arrependido – se é que ambos não significam, na maioria das vezes, a mesma coisa – têm muito a aprender com Felipe Neto. 

Quando o maior influenciador reacionário de um país golpeado decide repensar sua visão política, temos um sinal claro de que não se posicionar é exatamente como aliar-se ao fascismo.