A espetacular ruptura entre Janot e Aragão. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 15 de janeiro de 2017 às 21:07
Eram amigos
Eram amigos

O que você deve esperar de um homem a quem você manda calar a boca?

Tudo — exceto que cale a boca.

É o que se viu, mais uma vez, no episódio que opôs Rodrigo Janot e Eugênio Aragão.

O caso está relatado no Estadão de hoje numa excelente reportagem de Luiz Maklouf.

A rigor, Janot não mandou Aragão calar a boca. Disse, num email, que colocasse a língua no palato.

Que diabo é isso? — se perguntou Aragão, segundo o relato de Maklouf.

Língua no palato?

Bem, que podia ser senão um calaboca? Tente falar com a língua no palato.

Eram velhos amigos. Poucas coisas são mais melancólicas que a ruptura de antigas amizades.

Mas esta teve um lado cômico, também. Aragão foi ao escritório de Janot pedir satisfação, ou coisa parecida.

“Você veio aqui me chamar de traíra?” — perguntou Janot, depois de submeter o ex-camarada a uma espera de quarenta minutos.

De traíra não, devolveu Aragão. “De desleal.” Se alguém souber a diferença entre entre ser traíra e ser desleal favor me avisar, por favor.

Aragão, conta Maklouf, soubera que vazamentos da Lava Jato tinham partido da PGR de Janot.

A conversa se incendiou quando o nome de Lula veio à baila. Janot, sempre de acordo com o artigo de Maklouf, disse que Lula é um “bandido como todos os outros”.

Ficou claro, aí, que Janot jamais perdoou Lula por tê-lo classificado como “ingrato” na conversa com Dilma gravada e vazada por Moro, numa das últimas etapas do golpe.

Ao levar a história a um jornalista do Estadão, Aragão mostrou o quanto está indignado com o comportamento de Janot.

Você tem que estar com muita raiva de alguém para fazer o que Aragão fez. Ele não tomou nenhum cuidado para que o leitor não soubesse qual era a fonte da bomba.

Ele queria que as pessoas soubessem que a fonte era ele. Melhor: ele queria que Janot soubesse que o vazamento partira dele.

Vazamento se paga com vazamento: eis um exemplo acabado de vendetta.

O objetivo de Aragão foi plenamente alcançado. O homem que aparece na reportagem é um desequilibrado, um desvairado, inconsequente o bastante para não apenas chamar Lula de bandido — mas para mandar Aragão para a puta que o pariu.

Compostura e equilíbrio é o mínimo que se espera de um procurador geral da República. Janot demonstrou despreparo mental para o cargo que exerce, ainda mais num momento tão dramático.

Fora tudo isso, cometeu o pecado de julgar e condenar Lula antes que a Justiça oficialmente se manifeste. Neste caso, faria bem em manter a língua no palato.