O racismo desumaniza a todos nós, diz Lula

Atualizado em 20 de novembro de 2020 às 17:40
Lula. Foto: TVT/reprodução

Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual (RBA)

POR FABIO M MICHEL

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta sexta-feira (20) pronunciamento pelo Dia Nacional da Consciência Negra conclamando a população a engajar-se na luta antirracista, único caminho que vê para se construir “um mundo democrático, igualitário e bem mais feliz”. Em seu discurso, Lula afirmou que, “sem igualdade étnica e racial, assim como sem igualdade de gênero, não há democracia de verdade, não há cidadania efetiva e não haverá desenvolvimento. Com racismo, não há sequer soberania.”

O ex-presidente falou sobre as marcas da escravização do povo negro que são percebidas até hoje no sistema brasileiro, principalmente no que se refere à violência sofrida por essa população. “Mesmo sendo maioria, negras e negros ainda se encontrem nos patamares mais cruéis de desigualdade, pobreza e de violência”, disse. Em outro trecho, citou que “nos últimos 10 anos, mais de 650 mil pessoas negras foram assassinadas no Brasil. E os negros são quase 80% dos mortos pela polícia.”

Lula também discorreu sobre a pobreza extrema, que no Brasil afeta sobretudo a população negra e periférica, ao lembrar que quase um terço dos negros brasileiros está abaixo da linha da pobreza. Com dados do IBGE, ele comparou: “na pobreza extrema estão quase 9% dos negros, enquanto esse número entre os brancos é de menos de 4%.”

Genocídio histórico

O atual governo, de Jair Bolsonaro, foi duramente criticado pelo ex-presidente: “o governo genocida atual está totalmente empenhado em negar o papel da escravidão na formação do Brasil, o racismo estrutural que define profundamente nossa sociedade e, sobretudo, a luta da população negra contra sua opressão histórica.”

Em referência ao período em que foi mantido como preso político, em Curitiba, Lula disse que passou boa parte do seu tempo lendo sobre a escravidão e o racismo no país. O aprendizado, relatou, o fez entender que “existem privilégios por ser branco no Brasil e que mesmo a pessoa branca e pobre ainda consegue ser mais protegida do que aquela negra e pobre.”

Ainda no discurso, ele lembrou que o Brasil foi o último país a acabar com o tráfico de africanos escravizados e o último das Américas a abolir a escravidão. “Isso deixou marcas profundas em nossa sociedade. Marcas estruturais que alguns querem negar e esquecer.”

Heróis e heroinas

Também homenageou personagens do movimento negro no Brasil desde os tempos de escravidão: Machado de Assis, Lima Barreto, Maria Firmina, Luís Gama, José do Patrocínio, João Cândido, Carolina de Jesus, Gilberto Gil, Abdias do Nascimento, Conceição Evaristo, Benedita da Silva, Martinho da Vila, Milton Santos, André Rebouças e outros.

Além destes, citou passagens históricas da luta e resistência do povo negro escravizado: a Revolta dos Malês, a Revolta do Engenho de Santana, a Revolta das Carrancas, do Quilombo do Ambrósio, do Quilombo do Jabaquara, da Conjuração Baiana, da Revolta de Manoel Congo e outras. “Esse dia lembra, sobretudo, a incrível resistência do povo negro contra a escravidão e o racismo”, disse Lula.

Ao fim do vídeo, de cerca de 14 minutos, Lula protesta contra o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, o Beto. O homem negro, de 40 anos, foi espancado até a morte por dois seguranças em uma loja do supermercado Carrefour em Porto Alegre.

Assista a íntegra: