O recado de Moro ao estrelar mais um evento de Doria, acusado de corrupção por seus pares do PSDB. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 9 de março de 2016 às 8:42
Eles
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A presença de Sergio Moro em mais um evento organizado por João Doria pode ser encarada de três maneiras: ingenuidade, soberba cega ou provocação.

Moro confirmou que estará em um “jantar debate” do Lide, de Doria, em Curitiba na quarta, dia 9. O tema: empresas e corrupção. Ao seu lado, Gareth Moore e Alex Ellis, respectivamente cônsul e embaixador do Reino Unido.

Em setembro, o juiz foi aplaudido por quinhentas pessoas num almoço encabeçado pelo mesmo JD. A principal pergunta, na ocasião, era sobre a prisão de Lula, questão da qual se esquivou.

A Lava Jato tem como objetivo maior tirar Lula do páreo em 2018, de preferência colocando-o em cana. Se alguém tinha alguma dúvida a respeito dessa obsessão, passou da hora de acordar.

Moro, porém, não deveria deixar tão evidente seu partidarismo, nem que fosse pelas aparências, em nome do estado de direito e de uma suposta equanimidade.

Doria não é apenas o provável candidato tucano à prefeitura de São Paulo, mas está sendo acusado, por seus próprios pares, de comprar votos nas prévias.

Se é para discorrer sobre roubalheira em empresas, o anfitrião ocupa um cargo honorífico na CBF, seguramente uma das entidades mais corruptas do mundo há muitos anos.

Moro sabe disso. Que recado quer passar? Num momento de ânimos conflagrados, faz sentido agir desta maneira? A ideia é fazer o papel de incendiário?

Quem cuida de sua agenda? No dia seguinte ao papo com Doria, SM desfilará a mesma discurseira no 2º Fórum Transparência e Competitividade, promovido pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

De novo, as companhias são reveladoras. Uma delas é a do apresentador William Waack, o José Serra das madrugadas televisivas, o patrono do jornalismo militante de direita na Globo. Outra é a do presidente da Siemens, a companhia que comandou o cartel dos trens em São Paulo.

Moro pregará para convertidos, sairá consagrado, posará para selfies. Partirá com o ego ainda mais inflado ao passear num ambiente em que todo o mundo concorda com todo o mundo: este é o governo mais ladrão na história da humanidade, desde Hamurábi.

A corrupção dá dinheiro, mas falar sobre a corrupção pode ser ainda mais lucrativo (como atestam os resultados da consultora Empiricus, por exemplo).

Assim como o juiz tentou humilhar Lula na operação de sexta, dia 4, ele tripudia sobre a noção de imparcialidade. Dar show ao lado de alguém tão suspeito — em vários sentidos — como Doria, deveria ser demais.

Mas o brasileiro cada vez mais se acostuma com o fato de que o limite de Sergio Moro é diferente do do cidadão comum. Ele pode tudo.