O recall da Lava Jato é culpa de delatores que não falaram do PSDB ou de agentes que não queriam ouvir? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de novembro de 2016 às 11:59

 

Um vídeo recordista de audiência do Porta dos Fundos mostrava uma delação, ou tentativa, em que um empresário é impossibilitado de entregar qualquer coisa que não seja relativa a Lula ou Dilma.

Num caso de vida imitando a arte, o jornal El Pais conta o seguinte:

Delatores que omitiram informações, propositalmente ou não, para a Operação Lava Jato serão convocados a prestar novos depoimentos nas próximas semanas. Entre eles estão representantes das empreiteiras Camargo Correa, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez que deixaram de detalhar supostos esquemas de propina pagos para tocarem obras de responsabilidade dos Governos de São Paulo e de Minas Gerais quando eram administrados pelo PSDB.

 

O grupo de trabalho notou que há informações “que antecedem o acordo de delação premiada de executivos das empreiteiras Odebrecht e OAS citando irregularidades em obras das quais ambas participaram ao lado das demais investigadas ou nas quais foram concorrentes”.

Entre elas estão a Cidade Administrativa de Belo Horizonte, mais um elefante branco assinado por Oscar Niemeyer, o Metrô de São Paulo e o Rodoanel.

Sem admitir o recall, Rodrigo Janot deu a senha. “Existe a possibilidade da pessoa se esquecer mesmo. Estamos falando de anos e anos que se passaram de prática de diversos atos”, falou.

“Agora, se for um esquecimento doloso, deliberado, pode, sim, receber pena maior, aumentar multa e até quebrar a colaboração”.

A Lava Jato, com a cumplicidade dos suspeitos de sempre, destacando-se a mídia, fez tudo para fazer os depoimentos caberem na conta de chegada.

A “Organização Criminosa”, vulgo Orcrim, estava por trás. Inventou a corrupção no Brasil e institui-a com o objetivo de favorecer seu líder máximo, Lula.

Com o tempo, o nome de Aécio Neves começou a aparecer, não uma ou duas, mas várias vezes, bem como o de outros políticos de outras agremiações, até essa versão da história ficar difícil de sustentar.

O PT não é inocente, por óbvio. Mas daí a colocar o partido e seus líderes como tutores de profissionais tucanos e peemedebistas não cola.

Janot está sendo gentil ao afirmar que depoentes estão se “esquecendo”. Na verdade, eles abrem o bico com o que se espera deles, principalmente por medo.

Dessa maneira, por exemplo, se criou a farsa do cheque de 1 milhão de reais nominal a Michel, que, segundo o presidente da Andrade Gutierrez, era propina para o diretório nacional do PT e não a para o peemedebista.

A própria cruzada para jogar Lula na cadeia está se mostrando um tiro no pé. Mais de dois anos e a coisa foi resumida numa apresentação de powerpoint ridicularizada mundialmente.

Que venha o recall da Lava Jato, de preferência o da vida real.

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.