O Rei Filósofo

Atualizado em 16 de junho de 2013 às 11:46
Aqui viveu Marco Aurélio

De Roma

Roma é a terra de um dos meus heróis, Marco Aurélio (121-180 DC), o imperador-filósofo.

Marco Aurélio personificou o sonho de Platão de reis sábios.

Ele governou Roma num momento de perturbação, acossada por bárbaros, e foi em acampamentos militares que ele anotou observações que, mais tarde, reunidas, se converteriam num clássico do pensamento ocidental, Meditações.

Há, neste pequeno grande livros, tanta sabedoria prática quanto nos Analectos de Confúcio. A diferença é que os chineses lêem e cultivam Confúcio, ao passo que os ocidentais ignoram Marco Aurélio. Todo mundo deveria ter um exemplar de Meditações ao alcance das mãos. Mas levante as mãos quem tem.

Gosto, particularmente, desta passagem: “Previna a si mesmo ao amanhecer: vou encontrar um intrometido, um mal-agradecido, um insoletente, um espertalhão, um invejoso e um avarento.”

Marco Aurélio era tão grande no caráter que uma vez foram lhe dar cartas de um conspirador que poderiam comprometer pessoas a seu redor. Ele queimou as cartas sem as ler.

Marco Aurélio ensina que o sábio vive longe do terreno pantanoso da infâmia, da intriga, da maledicência.

Quanta vezes não nos decepcionamos com gente próxima que nos apunhala pelas costas? Pode ser um irmão, às vezes. Ou uma ex-mulher. Ou alguém que você considerava um amigo. É triste saber que eles falam e espalham coisas ruins de você, muitas delas distorcidas ou simplesmente inventadas.

Marco Aurélio ensina que, nestes casos, você deve respirar fundo e entender que a maledicência se deve a que seus perpetradores não são sábios. Você não deve se sentir atingido pelas infâmias, portanto. Elas pesam sobre quem as profere.

Alguns séculos depois, Agostinho usou a lógica de Marco Aurélio para frear uma onda de suicídios entre freiras que tinham sido estupradas por bárbaros. A violência envergonhava os algozes e não as vítimas, escreveu Agostinho.

Marco Aurélio é um antídoto contra a arrogância, igualmente. “Cada um vive apenas o momento presente, breve. O mais da vida, ou já se viveu ou se está na incerteza. Exíguo, pois, é o que cada um vive. Exíguo, o cantinho da terra onde vive. Exígua, até a mais longa memória na posteridade, essa mesma transmitida por uma sucessão de homúnculos morrediços, que nem a si mesmo conhecem, quanto mais a alguém falecido há muito tempo”.

É uma pena que nós, homúnculos morrediços, tenhamos esquecido Marco Aurélio.