
Os ingleses estão celebrando os 400 anos de uma das obras que mais influenciaram a prosa ocidental: a bíblia do Rei Jaime. (James, o nome do rei, pode ser vertido ao português como Jaime ou Tiago.)
Não foi ele exatamente que traduziu. Ele ordenou a tradução.
Feita num tom poético, elegante e acessível, e além do mais beneficiada pelo surgimento das máquinas gráficas, a Bíblia de Jaime se tornou um extraordinário sucesso de público. Muitas de suas expressões, como mostram pesquisas, se incorporaram ao inglês cotidiano e são usadas até hoje. “Cegos conduzindo cegos” é uma delas.
A figura de Jaime I é fascinante.
Embora tenha se casado e tido oito filhos, sua paixão eram homens. Um deles, o Duque de Buckingham, tido na época como o homem mais bonito da Europa, era chamado nas cartas que Jaime lhe endereçou como “minha jovem criança e esposa”.
Viviam no mesmo lugar. Um trabalho de arqueologia revelou que havia uma ligação entre os dois quartos.
Jaime favoreceu o amado de todas as formas. Isso revoltou os ingleses, que consideravam Buckingham uma influência extremamente negativa sobre o rei. Buckingham acabou assassinado, num episódio que lembra a morte de Rasputin, o monge russo que era odiado por, supostamente, manipular a czarina Alexandre e, por ela, o czar Nicolau II.
Buckingham recebeu uma facada. Teve tempo de dizer: “Um vilão me matou.” Tirou a faca do corpo, caminhou alguns passos e caiu morto.
O assassino se entregou. Embora para muitos tivesse prestado um serviço público, foi enforcado.
O czarismo não sobreviveu muito a Rasputin. E nem a monarquia absoluta britânica a Buckingham. O sucessor de seu amado, Carlos I, foi deposto e decapitado.
O Parlamento, que até então era um mero objeto nas mãos dos reis com o objetivo de redigir leis e criar impostos, começou a se insurgir fortemente no reinado de Carlos I. O confronto terminou numa guerra civil ao fim da qual a cabeça de Carlos estava descolada do corpo.
O Duque de Buckingham, o belo favorito de Jaime I, não viveu para ver o fim de um mundo que parecia inexpugável, em que se considerava que os reis eram representantes de Deus.
Jaime passaria para a história como um monarca altamente culto.
Ele será lembrado e celebrado pelos britânicos em 2011 pelos 400 anos da bíblia revolucionária que fez publicar.
Os franceses o admiram bem menos. O rei Henrique IV, da França, definiu Jaime como “um dos tolos mais eruditos do mundo”.
Isto é Europa.