O resto de dignidade da imprensa foi jogado às favas. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 3 de março de 2016 às 23:14
Um momento de extrema infâmia: a Isto É no seu pior
Um momento de extrema infâmia: a Isto É no seu pior

Se ainda faltava alguma mazela para que a grande mídia nacional atingisse o apogeu da indecência, hoje a revista IstoÉ cuidou de preencher a última lacuna nessa cavalgada insana ao completo descrédito jornalístico.

Não satisfeitos com as suas já indecentes relações de promiscuidade com a Polícia Federal, com o poder judiciário e com as séries consecutivas de vazamentos seletivos e ilegais, os arautos da imprensa nacional resolveram agora jogar às favas de vez o resto de dignidade que ainda lhes sobrava.

Para criarem a mais nova “bomba” que iria dinamitar todas as estruturas do atual cenário político já tão desgastado por uma horda de irresponsáveis que por mais de um ano não fazem outra coisa a não ser desestabilizar nossas instituições,  resolveram eles próprios criar as delações que eles mesmos iriam vazar.

A “delação” do senador Delcídio Amaral alardeada aos quatro ventos como o elo central que envolveria definitivamente Dilma e Lula na caçada às bruxas que se transformou a operação Lava Jato, seria de fato algo estarrecedor se não fosse por um pequeno detalhe. O de que Delcídio simplesmente desconhece todo o teor informado e todos os documentos apresentados.

Na nota oficial que a assessoria de imprensa do senador divulgou sobre a matéria, tanto Delcídio quanto o seu advogado afirmam simplesmente desconhecerem a origem e a autenticidade dos documentos acostados ao texto.

Informam ainda que em nenhum momento, antes ou depois da divulgação da matéria, foram sequer contatados pela jornalista que assina o “furo” para se manifestarem sobre a fidedignidade dos fatos relatados.

Antes disso o PGR, Rodrigo Janot, já havia confirmado desconhecer qualquer acordo de delação referente a Delcídio Amaral e ainda ironizou ao afirmar que não discute “ato jornalístico, que não é jurídico”. Ou seja, o “marco histórico” da jornada golpista que mudaria os rumos da política brasileira não durou poucas horas após ser veiculado em toda a mídia familiar e adepta ao uso da banalização do rigor jornalístico e da violação do sigilo processual.

É, seguramente, a maior demonstração de desespero generalizado que a grande mídia nacional promoveu diante às intermináveis e infrutíferas tentativas de encontrar algo que realmente pudesse destituir Dilma da presidência e inviabilizar a candidatura de Lula em 2018.

O caminho natural a ser tomado contra uma excrescência dessa envergadura e natureza não pode ser outro a não ser as vias judiciais.

Pena que a julgar pelo tipo de magistrados que ocupam o nosso judiciário, não é muito difícil prever o resultado. A Veja e a juíza Luciana Bassi de Melo que o digam.

A única coisa boa que pode sair desse episódio lamentável é a certeza que fica do nível de jornalismo que a plutocracia brasileira nos legou e, quem sabe, a diminuição do tempo de vida que ainda lhes resta.