O revelador ataque dos fãs de Holiday ao meu artigo sobre seu guru. Por Marcos Sacramento

Atualizado em 12 de outubro de 2016 às 8:22

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O artigo em que critiquei o militante do MBL e vereador eleito por São Paulo Fernando Holiday provocou reações exaltadas de uma multidão contaminada pelo ódio.

Fui chamado de “estrume”, “vagabundo”, “racista de merda”, “boçal”, “traumatizado” e “invejoso”. O raro comentário com alguma dose de humor ficou por conta de um sujeito que disse que estou passando “atestado de negro”. Um paranoico sugeriu que recebi dinheiro do Soros (cuma!?).

Uns três ou quatro blogs de direita, inclusive o de um colunista da Veja, repercutiram o texto. Em comum, os comentários, xingamentos e textões se resumem à seguinte suposição: “Holiday é criticado por falar a verdade sem se sujeitar à doutrinação esquerdista”.

Li tudo aquilo com tranquilidade e cabeça fresca, pois nenhum representante dessa turba foi capaz de apresentar um argumento sólido ou invocar um pensador respeitável para respaldar suas críticas ao texto do DCM.

Não o fizeram não por falta de capacidade intelectual, mas sim pelo simples fato de que o ponto de vista de Holiday a respeito das questões raciais é impossível de ser defendido por meio da razão.

Além dos ataques ao PT, à presidente afastada Dilma Rousseff, à ameaça comunista e ao bolivarianismo, Holiday se especializou em achincalhar o sistema de cotas raciais para ingresso nas universidades e no serviço público.

Em uma entrevista recente concedida à TV Gazeta de São Paulo, ele apresentou seu pensamento sobre o assunto e a justificativa para apoiar a extinção da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial (SMPIR), proposta defendida pelo prefeito eleito João Dória.

“O Movimento Negro no Brasil foi tomado por pessoas que acreditam serem donas da verdade. Não há pessoas dentro desses movimentos que de fato façam o questionamento da necessidade ou da eficiência de haver um dia da consciência negra ou da necessidade ou da eficiência de cotas raciais”, disse.

“Além de terem um discurso vitimista, que rebaixa os negros, faz parecer com que todos os negros fossem incapazes devido a sua história e na verdade não é, tenta colocar todo e qualquer negro como uma vítima. Eu penso exatamente o contrário, eu penso que o melhor método de combater o racismo é justamente alcançando o sucesso, alcançando os seus objetivos por meio dos próprios méritos, lutando para alcançar, trabalhando para alcançar e não simplesmente fazendo discursos ou nomeando esta ou aquela data”.

O futuro vereador do DEM repete a mesma fala em outros vídeos e entrevistas, mas nunca põe na mesa dados ou estatísticas para se respaldar.

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Ele chama reivindicações históricas do movimento negro de “vitimismo”, ignorando, ou fingindo ignorar, campanhas como a “Jovem Negro Vivo”, da Anistia Internacional, segundo a qual 77% dos 30 mil jovens vítimas de homicídios por ano são negros.

Em nome da sua cruzada contra a esquerda, Holiday se esquece que o STF determinou por unanimidade a constitucionalidade das Lei da Cotas, em 2012, e despreza o aumento do percentual de negros no ensino superior proporcionado pelas ações afirmativas.

O índice, de 1,8% em 1997, foi para 11,9% em 2011. Em apenas três anos a implantação das cotas garantiu o acesso de 150 mil negros ao ensino superior, segundo estudo do Ministério da Educação com recorte entre os anos de 2012 e 2015.

Se ele reservasse um tempo para saber mais a respeito das questões raciais, descobriria que a luta pelos direitos dos negros não é monopólio da esquerda e muitos militantes sequer legitimam os partidos desta vertente.

Inclusive, o escritor e pesquisador Carlos Moore, cubano radicado no Brasil e sumidade do movimento negro, foi preso pelo regime de Fidel Castro por denunciar o racismo da revolução cubana.

Por falar em ativismo, a verborreia de Holiday joga no lixo décadas de lutas e debates do movimento negro e subestima o pensamento de militantes e intelectuais da causa negra como Abdias Nascimento, Sueli Carneiro, Helio Santos, Douglas Belchior, Sílvio Almeida, Djamila Ribeiro e tantos outros.

O único pensador que ele parece seguir é o ator Morgan Freeman, autor da tese obtusa de que para combater o racismo é preciso deixar de falar nele. Só faltou explicar minuciosamente como isso vai inserir negros em espaços que lhes foram negados pelo racismo estrutural.

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