O Roda Viva de Hélio Bicudo prestou um serviço contra o impeachment. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 29 de setembro de 2015 às 17:34

 

Se o Roda Viva já não podia ser levado muito a sério como programa estritamente jornalístico há algum tempo, um novo recorde de indigência foi batido na entrevista com Hélio Bicudo e a professora da USP Janaína Paschoal (quem?).

Não apenas os dois entrevistados passearam sua ira numa boa diante de uma bancada camarada como, no final, todos se juntaram numa salva de palmas, como se estivessem numa festa de aniversário de um parente esquisito.

Perdeu-se completamente a noção do ridículo. Não há mais a necessidade sequer de manter as aparências. O Roda Viva eliminou qualquer sinal de jornalismo. É o mais perto do que George Orwell chamou de “Ministério da Verdade” em “1984”.

A certa altura, Bicudo apontou que faltava um empurrão da imprensa para o impeachment. Diego Escosteguy, redator-chefe da Época, estranhou: “A imprensa, doutor…??” Faltou completar: “Mais do que estamos fazendo, parça”?

“O Lula se corrompeu e corrompe a sociedade brasileira como ela é hoje através da sua atuação como presidente da República”, falou Bicudo.

“O que mais me impressionou foi o enriquecimento ilícito do Lula. Ninguém fala nisso, mas eu conheci o Lula numa casa de 40 metros quadrados. Hoje, o Lula é uma das grandes fortunas do país. Ele e os seus filhos”.

O entrevistado não apresentou um mísero documento para sustentar suas acusações. Não foi preciso, já que ninguém pediu.

É como se HB tivesse dito a coisa mais natural do mundo, um boa noite, e não feito uma denúncia gravíssima. Como estão todos numa só trincheira, não houve uma simples indagação se o homem tinha qualquer coisa remotamente parecida com uma prova.

Ao lado de Bicudo, Janaína, com uma voz metálica, repetia clichês sobre a ditadura bolivariana dignas de uma revoltada on line. Numa manobra clássica, se definiu como “nem de extrema direita, nem de extrema esquerda”. Babava de ódio. É de se lamentar o destino de seus alunos.

Paradoxalmente, com a tomada de partido de forma tão canhestra, o programa deixou transparente a fragilidade do que procurou defender. Mais do mesmo, num show de horrores.

Não que tenha sido algum dia uma grande maravilha, mas o resto de decoro do Roda Viva desapareceu de vez na segunda feira e nem o impeachment de Augusto Nunes será capaz de salvar o negócio.