O São Paulo conseguiu queimar seu maior ídolo Rogério Ceni — com ajuda do próprio. Por Davi Nogueira

Atualizado em 3 de julho de 2017 às 21:20
Foi sem nunca ter sido

Uma regra básica da gestão de recursos humanos diz: “nunca contrate alguém que você não possa demitir”.

Por não ter respeitado esta regra, a diretoria do São Paulo, nos últimos meses, se encontrava diante do dilema: é melhor conservar Rogério Ceni, mesmo com um desempenho medíocre, em respeito à sua contribuição ao time como jogador, ou demiti-lo e talvez evitar uma anunciada decadência da equipe?

Após a derrota no último domingo (02) para o Flamengo, finalmente preferiram a segunda opção. Nos últimos seis jogos, foram dois empates e quatro derrotas.

Tentaram segurar Rogério até o limite e, com a entrada na zona de rebaixamento, não tiveram escolha. A última visita são paulina ao Z-4 foi em 2013. As eliminações da Copa do Brasil, da Sul-Americana e do Paulista também foram determinantes para a demissão.

A principal questão é: o que leva o ex-goleiro a se arriscar como técnico da equipe principal apenas um ano depois da aposentadoria?

Nesse intervalo, foi auxiliar de Dunga no fracasso da seleção na Copa América, eliminada pelo Peru na fase de grupos. Além disso, abandonou um curso de treinador na Inglaterra antes da metade.

Esta foi sua preparação para, em novembro do ano passado, aceitar a proposta do presidente Leco. Foi uma decisão precipitada da diretoria, responsável por manchar a imagem do “mito” no clube contando, obviamente, com uma grande ajuda do próprio ao assinar o contrato que deveria durar dois anos – e não seis pífios meses.

Ele poderia ter começado de baixo, dirigindo equipes de base ou um time de menor expressão, como fez Zinedine Zidane ao assumir o comando do Real Madrid B. O resultado foi a conquista de quatro torneios em 2017, incluindo o Campeonato Espanhol e a Liga dos Campeões, já pela equipe principal.

Rogério poderia ter seguido esse exemplo, porém os triunfos conquistados como goleiro e artilheiro do SPFC, somados ao seu desejo de seguir apoiando o seu time do coração, o pressionaram a tomar uma decisão da qual deve estar arrependido.

A demissão de um ídolo pode custar caro ao clube e ao próprio jogador. Com certeza, o preço de sua contratação foi alto demais já que não passava, afinal, de uma simples estratégia de Leco para a sua reeleição.

O ídolo são-paulino foi enganado pelo presidente e, pela sua arrogância e falta de experiência, fraquejou em sua primeira tentativa como técnico.

Agora, com um elenco fraco e uma administração problemática, o São Paulo terá enormes dificuldades para voltar à elite do futebol.

E, para Rogério Ceni, resta se aventurar como comentarista, desde que seja longe do narrador Milton Leite.