O secretário de Saúde da BA está certo ao sugerir renúncia a leitos de UTI a quem é contra isolamento

Atualizado em 21 de abril de 2020 às 13:45
Fábio Vilas-Boas: secretário de Saúde da Bahia sugeriu termo no Twitter – FOTO: Leonardo Rattes/Ascom Sesab

Essa semana, um texto do sempre assertivo Pedro Cardoso nos colocou diante de um questionamento necessário sobre a nossa ideia de patriotismo, essa palavra que tem sido cada vez mais associada ao que há de pior em nosso país.

“Na minha opinião, quem se oferece ao vírus em aglomerações voluntariosas não deveria receber tratamento caso adoeça. Se o vírus é uma invenção, como dizem, que se curem sozinhos”, escreveu.

Muitos acusaram-no de antipatriota por esse texto – e que seja – mas a verdade é que ele não poderia ser mais sensato. Quem trata uma pandemia como gripezinha não se importa com a própria saúde, menos ainda com a saúde dos outros.

Quem defende abertamente uma ideia genocida não pode ser priorizado em prejuízo de quem respeita as recomendações institucionais, e quem ataca o SUS não merece ocupar seus leitos.

O secretário de saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, foi mais longe: sugeriu que aqueles que propõem o relaxamento do isolamento social  assinem um termo renunciando acesso à UTI e respiradores.

E tá errado?

Há quem diga que isso equivale a escolher quem vive e quem morre. Na verdade, quem se oferece ao vírus escolhe, por si mesmo, morrer. Pior ainda, escolhe morrer e matar. Portanto, aqueles que defendem essa proposição como um passo para a barbárie ainda não entenderam: a barbárie está instalada faz tempo.

Barbárie é termos direitistas se aglomerando nas ruas, com o aval e incentivo de seu presidente, em meio ao momento mais crítico da pandemia. Barbárie é colocarem o iminente colapso da economia acima das vidas humanas que serão perdidas.

Barbárie é querer que o isolamento, tão custoso para quem de fato o respeita, torne-se inútil porque uma parte do Brasil – ou um desses tantos Brasis – se recusa a tratar uma pandemia com a seriedade que ela exige.

Propor que aqueles que não respeitam o isolamento social e não seguem as recomendações das autoridades não sejam tratados – onerando, ora essa, a sociedade inteira – não é barbárie, é justiça.

Permitir que os bolsonaristas sigam aglomerando-se, militando contra o isolamento, colocando em risco as próprias vidas e as vidas dos outros, e garantir que sejam tratados caso adoeçam, equivale a reservar o sacrifício que deveria ser de toda a sociedade a apenas uma parte dela, e, seguindo à risca a nossa triste tradição, socializar apenas o prejuízo e a desgraça.

Volta e meia o atemporal conceito de contrato social volta a nos fazer questionar: o que é, de fato, viver em sociedade? Quem não atende a um chamado de colaboração coletiva em meio a uma pandemia definitivamente recusa-se a viver em sociedade. É justo, portanto, que essa mesma sociedade se recuse a se responsabilizar por sua integridade.

Se a pandemia é uma mentira, que os anti-isolamento peçam unção ao Silas Malafaia quando adoecerem, e deixem os respiradores a quem colabora com a questão de saúde pública que ora se apresenta. Se o isolamento é uma invenção da globo, da OMS e do papa – todos comunistas – que se unam ao seu mito tossindo na cara uns dos outros e fazendo buzinaço da morte.

E se há vários Brasis, que seja cada um por si:

O Brasil que compreende o isolamento como um ato de civilidade e amor ao próximo, o nosso Brasil, não merece ser dizimado por quem se entrega a uma ignorância suicida. E o Brasil que acredita que a COVID 19 é uma mentira, que viva – ou morra – como se fosse.