Bernie Sanders é arrebatador, simplesmente.
Mas de onde vem tamanha força para transformá-lo de uma nota de rodapé nas eleições americanas de 2016 num potencial futuro presidente?
No centro de tudo está o seguinte: Sanders vai ao âmago da questão.
O câncer dos Estados Unidos, e do mundo, martela ele, é a desigualdade.
Foi o mesmo discurso enfático que fez do Papa Francisco uma personagem grandiosa da cena contemporânea mderna, ao contrário de tantos antecessores irrelevantes.
O que acontece no Brasil é o seguinte. Pela mídia, que é a sua voz, a plutocracia ludibria a sociedade com a falácia de que o mal maior brasileiro é a corrupção.
Com isso, você evita que se debata a desigualdade – da qual os plutocratas se beneficiam amplamente.
É um golpe sujo.
O que Sanders demonstra com suas palavras enérgicas e viris é que não existe nada mais corrupto do que um sistema em que a política é controlada pelos bilionários, por meio de financiamentos de campanhas pelo big business.
Esta é a real corrupção.
E é a pior delas, porque a roubalheira – a transferência de dinheiro dos pobres para os muito ricos, ou dos 99% para o 1% — se dá de forma legal. Você cria leis que favorecem a plutocracia em detrimento dos demais.
Um pequeno exemplo são os paraísos fiscais. O que antes seria motivo de escândalo e prisão por força de sonegação se torna legal com a introdução de legislações permissivas e abjetas.
Um dinheiro que construiria escolas, hospitais, estradas e por aí vai acaba na conta de bilionários gananciosos.
Acontece nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Alemanha – e também no Brasil.
Elimine os financiamentos do big business e você progredirá enormemente no enfrentamento da iniquidade.
Não elimine – e mil Lavas Jatos não levarão a nada exceto atender a propósitos políticos e partidários.
Na campanha de Sanders, o valor médio das contribuições de campanha é de 27 dólares, pouco mais de 100 reais. Grandes doações não são aceitas.
Examine o caso brasileiro.
O símbolo maior da corrupção, Eduardo Cunha, é filho do financiamento. Cunha não arrecada apenas para si nas campanhas, mas para dezenas de outros políticos igualmente corruptos, seus paus mandados.
Com isso, ele transformou a Câmara de Deputados num balcão de comércio. Comandou a aprovação de medidas sobre medidas que atendiam exclusivamente o interesse da plutocracia, como a terceirização.
Ao avisar que com ele sequer se discutiria a regulamentação da mídia, conquistou o apoio dos grandes grupos jornalísticos e pôde fazer o que fez – roubar, mentir, escarnecer dos brasileiros – em regime de amplo sossego, até as autoridades suíças entrarem em cena com as provas avassaladoras dos seus crimes.
É contra esse estado pútrido de coisas que Bernie Sanders se ergue nos Estados Unidos. A imprensa corporativa tentou ignorá-lo, mas as redes sociais e a mídia digital compensaram amplamente o silêncio das grandes empresas jornalísticas.
É uma pena que, no Brasil, o PT não tenha feito o mesmo trabalho de catequização de Sanders. Não adianta apenas agir contra a desigualdade. É imperioso pregar, ou espertalhões manobram a sociedade e formam um falso consenso em torno de algo que é bom para eles, como acontece com a corrupção no Brasil.
Faltou a Lula, a Dilma e demais lideranças petistas fazer o que Sanders está fazendo agora, com fabuloso sucesso: mostrar que a verdadeira corrupção está na desigualdade