O significado das palavras de Lula na coletiva depois de depoimento. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 4 de março de 2016 às 16:13
A jararaca está viva: Lula na coletiva pós-depoimento
A jararaca está viva: Lula na coletiva pós-depoimento

Quiseram matar a jararaca, mas bateram no rabo e não na cabeça.

Assim Lula terminou no começo desta tarde de sexta seu pronunciamento depois do interrogatório a que foi submetido pela PF na nova fase da Lava Jato.

Quem pensava que Lula estaria abatido se decepcionou.

Lula parecia cheio de fogo e de planos. Disse estar magoado, ofendido, ultrajado, mas ao mesmo tempo mais motivado que nunca para combater o combate.

Falava como um jovem sindicalista, e não como um septuagenário em busca de sossego.

Avisou que, a partir de agora, vai percorrer o país, como fez no passado. Não é uma boa notícia para a direita, evidentemente.

Você ouve Lula falar e vê a diferença brutal que o separa, em carisma, retórica e poder de convencimento, dos políticos da oposição que poderiam enfrentá-lo nas urnas em 2018.

Pense em Aécio, ou Alckmin, ou quem quer seja: é um profissional contra mirins.

O episódio de hoje pode ter sido um espetacular erro dos interessados no golpe. Em vez de derrubar o alvo, Lula e o PT, eles podem tê-lo inflamado e despertado.

Ficou claro, desde o início, a repugnância de largas fatias da população diante do grande propulsor do golpe, a Rede Globo.

No Twitter, a hashtag #ForaRedeGlobo era uma das mais concorridas. Viralizou a imagem de um tuíte em que o jornalista Diego Escosteguy anunciava euforicamente, no começo da madrugada da quinta, a operação contra Lula.

Escosteguy, de uma revista da Globo, provavelmente não se deu conta da gravidade do que seu tuíte revelava: o jogo combinado entre os Marinhos e a Lava Jato.

É a isso que leva a arrogância.

Ele quis se fazer de bonzão, de bem informado, e expôs seus patrões a uma situação constrangedora.

Vieram à mente as lembranças da Globo golpista de 1964. Mais de 50 anos depois, a empresa não mudou. Talvez tenha mudado o Brasil, e se o golpe não funcionar a Globo, que mamou nas tetas de dois governos petistas, possivelmente terá problemas sérios pela frente.

Sérios e, aliás, merecidos. Merecidíssimos. A Globo sodomizou o Brasil desde o início da ditadura, e já é hora desse abuso chegar ao fim.

Comentaristas da mídia defenderam o indefensável: a agressão a Lula. Uma das críticas mais frequentes foi que Lula politizou o caso.

Ora, ora, ora.

É claramente uma ação política. Eles queriam que Lula despolitizasse o ataque de que foi vítima?

Lula falou no seu triplex com uma mistura de humor e veneno. Se os Marinhos lhe cedessem a Paraty House, descansaria lá.

A maneira como as duas propriedades são tratadas é exemplar da politização da investida contra Lula.

Todos sabem que a Paraty House foi construída e desfrutada pela família Marinho. Mais especificamente, por Paula Marinho, filha de João Roberto, responsável pela política editorial da Globo.

O arquiteto chamou a casa de Projeto PM, de Paula Marinho. Uma especialista que trabalhou no paisagismo da casa disse ao DCM que a Paraty House é dos Marinhos.

E eles negam, com base em espertezas legais, e chegam ao cúmulo de ameaçar sites como o nosso.

É uma casa criminosa, além do mais: infringe a legislação sem nenhuma cerimônia.

Mas sobre isso ninguém faz nada. A PF finge que o problema não existe, e não seria de espantar se Moro já tivesse se hospedado nela. (Atenção: é uma mera especulação.)

Em compensação, os humildes pedalinhos de Atibaia são objeto de uma investigação brutal.

Esta diferença é o símbolo do Brasil — em que a plutocracia pode tudo, incluído aí derrubar governantes que não se ajoelham diante dela.