O silêncio criminoso dos que se acovardaram. Por Moisés Mendes

Atualizado em 6 de maio de 2022 às 11:18
Militares continuam atacando o tse em relação as eleições nas urnas
Presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares do Exército
Foto: Reprodução

Por Moisés Mendes

As ameaças de Bolsonaro e dos militares ao TSE e às eleições são cada vez mais acintosas porque eles se sentem à vontade para avançar.

E avançam sobre um Brasil de entidades acovardadas. As organizações empresariais são as mais covardes, mesmo que não sejam diretamente cúmplices do golpe.

A grande imprensa é covarde. Também não é parte da tentativa de sabotagem da eleição, como foi golpista em 64 e depois em 2016, mas está acovardada.

A ameaça de golpe se intensifica porque a maioria das entidades com algum poder de representação, mesmo que apenas simbólico, não diz nada.

E porque o brasileiro se acovardou, ao contrário de chilenos, argentinos, colombianos, equatorianos, peruanos, bolivianos, uruguaios.

Organizações de todas as áreas, viciadas em largar notinhas genéricas em defesa da democracia, deveriam dizer todos os dias que não vai ter golpe.

Deveriam dar o nome da ameaça. Inclusive as entidades que representam os jornalistas. Há um encolhimento geral, porque a maioria teme Bolsonaro, teme os milicianos e teme os militares.

Dizem alguns que o Brasil não é um país covarde. Mas está hoje um país covarde, dependente da bravura de Alexandre de Moraes e de Edson Fachin.

É por isso que o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, manda dizer aos jornais que pediu ao TSE, em tom de quem ordena, que divulgue publicamente a lista de questionamentos feitos pelas Forças Armadas sobre as eleições.

Os militares tentam criar um constrangimento, ao insinuar que o TSE se nega a dizer, entre outras coisas, o que acontecerá se houver alguma falha na eleição, mesmo que sejam problemas pontuais em urnas de votação.

Os generais tentam obrigar o TSE a admitir que, em caso de erro ou falha, será preciso impugnar resultados e até realizar nova eleição. E uma nova eleição sob a tutela dos militares e, quem sabe, com apuração supervisionada pelas Forças Armadas?

Quem teme perguntar: mas que autoridade têm as Forças Armadas para interferir no processo eleitoral, com pretensa voz de comando sobre a autoridade maior de uma eleição, que é o TSE?

Pois os militares ainda acham que são o poder moderador da democracia. Mas não são. Ministros do Supremo já disseram que não são.

Luiz Fux disse. Dias Toffoli repetiu. Carmen Lúcia reafirmou. Juristas sabem que não são e que essa é uma controvérsia da hermenêutica do golpe.

Mas os militares continuam tentando impor o que entendem do artigo 142 da Constituição, por acharem que podem eventualmente atuar acima dos outros poderes.

Os militares podem ter autonomia e poder para mandar comprar Viagra, mas não para dizer o que o TSE precisa fazer para que as eleições sejam transparentes.

Mas, pela ausência de reação, eles se acham no direito de impor suas vontades e suas perguntas ao TSE, como se o tribunal fosse uma instituição subordinada à “moderação” dos fardados.

O acinte, com a cobrança de respostas ao TSE e as ameaças de apuração paralela de Bolsonaro, só acontece porque o Brasil está calado.

Os partidos de oposição e algumas entidades que resistem não são suficientes para conter as afrontas. A OAB também se acovardou.

A resistência sente falta das vozes de organizações até agora silenciosas, porque seus líderes se acovardaram.

São mais do que omissos, são entidades e líderes covardes. São criminosamente covardes.

(Texto originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES)

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