O silêncio sabujo do governo Temer diante da humilhação de um ministro por uma cia. aére dos EUA. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 23 de agosto de 2017 às 11:56
Hussein Kalout

 

O silêncio do governo diante da humilhação sofrida pelo secretário especial de assuntos estratégicos da Presidência, Hussein Kalout, é o retrato do Brasil de Temer.

Um país de quinta categoria, vira lata no cenário internacional, comandado por um pária que tem medo de Trump.

Kalout foi vetado num voo da American Airlines para Nova York na segunda-feira no aeroporto de Brasília.

Ele se recusou a se submeter a uma inspeção especial. Diz que estava prestes a entrar no avião, na fila dentro do finger, quando foi retido por um funcionário.

Kalout argumentou que já havia passado pelo procedimento de segurança e ouviu que eram “ordens do governo americano”.

Avisou que já havia sido revistado e que portava passaporte diplomático. À Folha, declarou, corretamente, que foi racismo. “Meu nome é árabe”, explicou.

Em outras viagens aos EUA, isso havia ocorrido, mas em solo americano e antes de se tornar membro do ministério.

“Não estou pedindo tratamento VIP, só não quero ser humilhado. É aceitável uma autoridade do governo brasileiro ser submetida a um constrangimento dentro do aeroporto de Brasília, por regras do governo americano?”, perguntou.

Ele se recusou a fazer os procedimentos, perdeu o voo e todos os compromissos.

Kalout é descendente de libaneses, como Michel Temer. Como era de se esperar, o outro ficou quieto como um rato e assim permanecerá.

Kalout foi vítima de racial profiling, o ato de suspeitar de uma pessoa de determinada raça com base em estereótipos. Acontece em todo aeroporto com as comunidades negra, muçulmana, latina e asiática. Especialmente sob Trump.

Em 2002, um episódio envolvendo o ministro das relações exteriores de FHC, Celso Lafer, ficou marcado como exemplo da nossa subserviência.

Mandaram Lafer tirar os sapatos três vezes. Segundo um estudo divulgado pelo IPEA anos depois, “esse comportamento, reiterado nos aeroportos de Washington e Nova York durante esta visita oficial, poderia ser considerado uma simples anedota, não fosse Celso Lafer o chanceler brasileiro”, dizia o texto.

O atentado das Torres Gêmeas ocorrera um ano antes e fazia sentido esse tipo de atitude. Lafer passava pelo mesmo que todo brasileiro.

Desta vez é pior. É racista e tem como justificativa, além do nome, as feições de Kalout. É para se proteger de um cidadão “com cara de terrorista”.

Kalout tem toda razão em se sentir ultrajado.

Especialmente porque sabe que seu chefe e “brimo” é um anão moral que não fará absolutamente nada a respeito. O azar de Kalout é que não foi na Venezuela. Se fosse, teríamos leões de circo rugindo.