O sonho de Doria na cracolândia é reativar o trem para Auschwitz. Por Donato

Atualizado em 13 de junho de 2017 às 12:42
Oberstgruppenführer Doria Visita

 

O plano não se restringe aos dependentes químicos do crack, mas não é arriscado supor que tenham sido eles os reponsáveis por fazer germinar a ideia na cabeça do prefeito.

Afinal de contas, após as desastradas operações na cracolândia, onde os usuários são expulsos para se aglomerarem poucas ruas ao lado e assim ficarem indo e voltando da ‘velha’ para a ‘nova’ cracolândia (só no domingo esse pêndulo balançou 3 vezes), João Doria certamente esteve embatucando sobre o que fazer com essas pessoas.

Seu desejo é sumam, desapareçam. Gostaria de enfiar os pobres coitados em um trem para Auschwitz ou fazer como na ditadura Argentina, embarcá-los num avião e depois atirá-los lá de cima sobre o oceano.

Então por que não reproduzir os métodos de Hitler ou, mais modernamente, Donald Trump? A gestão Doria está estudando enviar os usuários de drogas – e também qualquer pessoa em situação de rua – de volta para suas cidades ou Estados. A prefeitura irá pagar as passagens.

O secretário municipal de Assistência Social, Filipe Sabará, admitiu a existência do projeto em informação divulgada pelo UOL na manhã de hoje. Ainda que em linhas gerais, declarou que a proposta será ampliada (a quem mais?) e que “condições serão definidas até o fim deste mês”.

Filipe Sabará afirmou ainda, obviamente, que apenas ‘quem manifestar o interesse em deixar a cidade terá a situação avaliada pelo município’.

Ligeiro, ele próprio já encontrou, avaliou e despachou um ‘refugiado’. Vangloriando-se do feito, o secretário postou em redes sociais no último domingo ter providenciado a volta de um frequentador da cracolândia para São Luís do Maranhão.

“Estou levando o Antônio que foi resgatado das ruas hoje, para a rodoviária e o presenteando com uma passagem para sua terra natal no Maranhão. Ele veio para São Paulo buscar oportunidades de trabalho, mas não conseguiu e acabou nas ruas e nas drogas”, escreveu.

Maravilha. Manda pro Maranhão e o Maranhão que se dane. E se o projeto é ainda apenas um projeto, como então isso foi viabilizado? Quem pagou a passagem de Antônio de volta para a terra natal? O solidário Filipe Sabará afirmou ter pago “do meu próprio bolso”. Por que escolheu só um, é um mistério.

O secretário pode sim ser alguém de fato solícito, caridoso, etc. E terá realizado um gesto louvável se imbuído exclusivamente de compaixão. Mas quem pratica uma boa ação e depois divulga para o mundo?

A proposta da prefeitura e dos responsáveis pela pasta da Assistência Social pode ser ainda um estudo. Mas a ideia brotar já diz tudo sobre a atual gestão que tem entre seus admiradores aquela turma que aplaudiu a tortura praticada por um tatuador contra um adolescente suspeito de tentativa de furto.

Doria está implantando uma caçada aos pobres. O prefeito quer uma cidade onde tudo precisa ser pago. A mais nova medida de avanço sobre os bolsos do cidadão pretende cobrar uma taxa anual nos cemitérios públicos para quem possui jazigos familiares. Tal como é em cemitérios particulares.

O prefeito não desmente Raul Seixas. Tem que pagar pra nascer, tem que pagar pra viver, tem que pagar pra morrer. E se você for pobre, fique longe daqui.

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.