O tablóide que morreu por um crime que não cometeu

Atualizado em 1 de junho de 2013 às 18:42
Milly Dowler, a garota cuja morte acabaria levando ao fim do News of the World

 

O que provocou o vendaval do qual resultou a morte em poucos dias do tablóide semanal inglês News of  The World, aos 168 anos de existência, foi uma informação em torno do caso de uma adolescente sequestrada e afinal assassinada.

O Guardian, que vinha dando os furos sobre a violação de caixas postais pelo NOW na busca de furos, afirmou que a menina fora objeto dessa estratégia criminosa. Segundo o Guardian, o NOW entrou na caixa postal da garota e deletou mensagens para que novas pudessem entrar.  O jornal poderia dar furos assim. A família, quando soube que a caixa fora mexida, achou que ela ainda estava viva.

Não estava.

Esse episódio causou uma comoção tal na opinião pública inglesa que o NOW foi fechado na edição seguinte, com uma manchete que dizia: “Obrigado e Adeus”.

Poucos meses depois, as investigações da polícia vão em outra direção. A polícia, esta semana semana, afirmou não haver evidências de que o tablóide tenha deletado mensagens.  Uma vez ouvida uma mensagem, ela automaticamente é deletada em pouco tempo. Foi isso, aparentemente, o que aconteceu.

Tudo indica que foi uma barrigada histórica do Guardian – um jornal de alto nível, levemente inclinado para a esquerda.

Isso não absolve o NOW de todos os crimes jornalísticos que cometeu na ânsia obscena de conseguir furos. Mas é curioso que o tablóide possa ter morrido não pelo que fez, mas que pelo não fez.

De toda forma, o NOW não deixa saudade. É um mau defunto. Será lembrado, enquanto houver  jornalismo, como uma prova irrefutável de que existem limites –éticos, morais, legais – que publicação nenhuma pode ultrapassar na busca de furos.