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A bizarra decisão do TCU no caso Pasadena

Não sai do noticiário

Parece que não temos muita sorte com tribunais de contas.

O TCE de São Paulo é aquele em que figura, há décadas, um homem que sabidamente tem conta secreta na Suíça, Robson Marinho, pupilo de Covas.

Não apenas secreta, aliás. Bloqueada também pelos suíços, sob evidências acachapantes de que o dinheiro da conta é fruto de propinas derivadas do metrô de São Paulo.

Cabe a Robson Marinho e companheiros do TCE de São Paulo zelar, aspas, para lisura dos gastos do governo estadual.

Bonito isso.

Agora eis que ganha as manchetes outro tribunal de contas, o TCU, da União.

Numa das decisões mais estapafúrdias da história nacional, o TCU condenou ex-diretores da Petrobras envolvidos na compra da refinaria de Pasadena a devolver cerca de 2 bilhões de reais aos cofres públicos.

É o valor que a Petrobras teria perdido no negócio.

Nem que cada um dos condenados trabalhasse mil anos sem gastar nada seria possível pagar o devido.

A cifra estipulada pelo TCU equivale ao homem de 8 metros: não tem o menor sentido.

É uma barbaridade, é uma estupidez. Mais correto: é uma insanidade. Revela um completo alienamento da realidade.

Como se chegou aos 2 bilhões de reais é um mistério. Negócios podem dar certo e podem dar errado. Às vezes, você perde. Outra, ganha.

Não existe negócio em que você tenha total garantia de que vai se encher de dinheiro e de felicidade.

Bons executivos são aqueles que não fogem dos riscos.

Todas as discussões em torno de Pasadena não deixaram claro se a compra da refinaria foi um bom ou um mau negócio.

A visão que parece mais crível é que era, no momento da compra, um bom negócio. Mas depois as circunstâncias se alteraram, e os lucros não vieram.

Isso acontece com copiosa frequência no mundo das empresas.

Se a decisão do TCU se transformar, afinal, em realidade, teríamos consequências funestas.

Não se trata apenas da bizarrice da cifra em si. Mais que isso, a mensagem que será dada aos executivos da Petrobras, e não apenas dela, é: não façam negócios. Não comprem nada. Não arrisquem.

Façam a empresa se tornar morta em vida, portanto.

É curioso comparar, na mídia, o caso Pasadena e o caso Aécio.

Não há empenho nenhum em procurar desdobramentos no aeroporto. Sequer o caseiro da fazenda foi ouvido, ou algum vizinho. Você não tem uma história decente – ou até indecente – sobre o pivô do escândalo, o tio de Aécio.

Pasadena, em compensação, é uma obsessão. Sempre há um suposto fato novo que justificaria uma cobertura profusa.

Agora até Lula está no noticiário. Ele teria tentado, com um integrante do TCU que fez parte de seu ministério, livrar Dilma da sentença condenatória.

Tenta-se dar ares bombásticos à denúncia, ainda que sem provas, na esperança de que o público se comova. Hoje, Merval falou longamente disso na CBN. Lula apareceu, como sempre, no papel de vilão da república.

Nenhuma palavra sobre o aeroporto, é claro. E também nada sobre o absurdo incomparável que é apresentar uma conta de 2 bilhões de reais a executivos e esperar que ela seja quitada.

Parecia que não havia nada pior que o TCE de São Paulo, no capítulo dos tribunais de contas.

Isso até o TCU mostrar sua cara.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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