“O título mais justo que já vi”: a inédita taça do Atlético contra o Cruzeiro na Copa do Brasil

Atualizado em 27 de novembro de 2014 às 10:43

Por Gustavo Carratte, idealizador do site Conexão Fut

No vestiário, comemorando
No vestiário, comemorando

O torcedor do Atlético Mineiro, esperançoso por natureza, chegou à grande final da Copa do Brasil de 2014 em uma situação diferente. Naquela noite, o seu time não teria de reverter uma desvantagem de dois gols contra uma das melhores equipes do Campeonato Brasileiro nem tampouco teria de repetir o feito diante do maior rival que ele possui fora de Minas Gerais.

Acostumado a ser integrante único em plateias de espetáculos fadados ao fracasso, onde nenhum ser vivo de outra preferência clubística acredita que um milagre é possível, o atleticano deparou-se com o desafio de manter um placar idêntico àqueles outrora revertidos. Um placar conquistado após uma partida no Independência que começou carente de referências de favoritismo para qualquer um dos lados e terminou cheia de certezas.

O esgotamento físico do Cruzeiro foi abissal e, além da falta de tranquilidade e inspiração, é parte gigantesca da explicação para o quase total domínio do Galo. Não há time no Brasil que necessite tanto de seu limite físico para atingir o seu nível médio de rendimento. Não há time no Brasil que explore de forma tão obsessiva todo o seu repertório. E não há time no Brasil que exija tanto da capacidade de concentração de seus atletas para executar com perfeição os movimentos de ataque, defesa e transição. Por tabela, nos últimos dois anos, não houve nem quem vencesse nem quem se cansasse mais.

Mais inteiro, o Atlético se comportou de uma maneira exemplar. No primeiro jogo, depois de abrir o placar logo no início, o exato meio-termo entre a coragem e a cautela. No segundo, chances e mais chances de gol, que só não transformaram a maior final da história do clássico mineiro em um verdadeiro massacre porque a falta de pontaria foi a regra.

Nos 180 minutos de decisão, o Cruzeiro ofereceu perigo em duas ou três ocasiões. Territorialmente, conseguiu dar as cartas durante dois minutos aqui, outros cinco ali, e nada mais. Um comportamento tão tímido quanto a quantidade de cruzeirenses que toparam desembolsar pornográficos R$ 700 para acompanhar a finalíssima no setor Inferior Leste do renovado e abençoado Mineirão, palco de grande parte dos jogos memoráveis que o país sediou de 2013 para cá.

O título inédito do Atlético Mineiro na Copa do Brasil foi a confirmação da lógica que toma conta do torneio há dez anos, onde apenas em 2008, com o Sport, e em 2013, com o Flamengo, o mandante da partida derradeira sagrou-se campeão. Foi um carimbo de qualidade para uma equipe que perdeu peças fundamentais, como Ronaldinho Gaúcho e Bernard, mas que, além de ter mantido Diego Tardelli e visto Dátolo passar de coadjuvante a protagonista, ganhou a sobriedade que não raramente faltava ao brilhante, intenso e vencedor esquadrão de Cuca.

E como disse Levir Culpi, foi um título dos mais justos. Uma merecidíssima premiação aos jogadores que construíram uma das campanhas mais recheadas de virtudes, emoções e angústias do futebol brasileiro nos últimos anos.