O trem fantasma na festa de aniversário de Marta Suplicy

Atualizado em 25 de março de 2015 às 15:52
Eles (Foto: Bruno Poletti)
Eles (Foto: Bruno Poletti)

 

Marta Suplicy ainda é filiada ao PT mas anunciou que sairá da legenda em breve. Disse, no jantar em que comemorou seus 70 anos, que irá para o PSB “no momento em que o novo partirdo achar adequado.” Marta também deixou claro em papos com os convivas que tem medo de perder seu mandato de senadora, que vai até 2019.

Os jantares organizados pela família Suplicy sempre foram famosos por reunir quatrocentões, artistas, intelectuais e homens poderosos de São Paulo e lideranças políticas que emergiam da luta sindical. Desta vez, porém, a atração foi uma outra turma. E que turma.

Começamos por José Sarney, cujo último grande lance político foi ser flagrado votando em Aécio Neves enquanto carregava um adesivo de Dilma Rousseff no peito.

Quem estava lá registrou a seguinte situação: Roberto Freire, presidente do PPS e Sarney estavam frente à frente. Freire estica os olhos para uma bandeja de canapés que passa ao longe. Sarney se irrita. Decide chamar a atenção do pernambucano e por isso puxa o assunto do momento: governo Dilma. Daqui por diante, como saiu publicado no Estadão: “Como você está vendo o quadro?”, perguntou Sarney. “Este governo não tem capacidade para se recuperar”, respondeu Freire. Fim de papo.

Também estava lá – e não devolvendo o processo sobre financiamento de campanhas com o dinheiro de empresas, em sua mesa há mais de um ano – o ministro Gilmar Mendes. Entre uma empada de camarão e outra, Mendes falava sobre a possibilidade de Marta perder o mandato. Ele disse que não há precedentes do TSE sobre senadores que perderam o cargo ao mudar de partido mas que o PT poderia pedir o cargo de volta. Aí Marta precisaria de ajuda.

Ajuda esta que se materiliazava numa figura de barba e cabelos desgrenhados: Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado de Roberto Carlos, Roseana Sarney e qualquer político, desde que esteja enrolado. Apareceu por lá e confraternizou com toda a turma. Kakay ia de mesa em mesa com um “meme” sobre ele que circula na internet: uma foto sua de sorriso aberto acompanhada da frase “Saiu a lista do Janot”. Muito engraçado.

Quem também apareceu? Naji Nahas, como não? Ele, o empresário que sozinho quebrou a bolsa do Rio em 1989 (e foi condenado a 24 anos de prisão e não cumpriu nenhum), protagonista nas investigações da operação Satiagraha e dono do terreno da favela do Pinheirinho, cuja reintegração de posse deixou 1.500 famílias na rua em 2012.

Michel Temer também foi dar seus parabéns, e também conversar um pouco, não é mesmo? Porque conversar não faz mal. O PMDB disse que vai apoiar Haddad em 2016. Mas tudo pode mudar, não é? Marta já é dada como certa como candidata do PSB para o mesmo pleito. O PMDB foi ser PMDB, enfim.

Outras presenças notáveis: o vice-governador do estado Marcio França, o ex-ministro auto-incendiário Nelson Jobim, Thereza Collor e o marido, o cabeleireiro Celso Kamura (que também acerta o cabelo de Dilma; resta saber se o salão dele não ficará pequeno demais para as duas). O delegado Antonio de Olim foi outro cuja foto apareceu na galeria. É aquele que foi denunciado, no ano passado, pela corregedoria da Polícia por carregar numa viatura o jornalista César Tralli para tomar café. E uma penca de caciques do PSB que foram cumprir sua função de receber a nova contratação do time.

Enfim: neste link você pode ver tudo com os próprios olhos. Talvez encontre mais alguns personagens fascinantes que este colunista não viu.

Ou, faça melhor: acesse um desses sites de fofoca e clique nas fotos da última festa de Paris Hilton. A essa altura, cenário e clima de ostentação são os mesmos. É desolador que o caminho político da senadora no partido socialista comece nos salões de um hotel suntuoso e em meio a velhas e sagradas múmias da política. Ao menos, a senadora parecia relaxada e pronta a gozar de sua nova posição. Como escreveu Jean Genet: “Quem nunca viveu o êxtase da traição, não sabe nada sobre o que é o êxtase.”