O TSE derrubou as suspeitas do PSDB contra as urnas, mas as de Gilmar Mendes continuarão

Atualizado em 1 de dezembro de 2014 às 20:10
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Por unanimidade, o TSE isentou as urnas eletrônicas das suspeitas apresentadas pelo PSDB três dias após a derrota de Aécio Neves.

De acordo com uma petição assinada pelo deputado federal Carlos Sampaio, coordenador da campanha aecista, cidadãos brasileiros “foram às redes sociais” demonstrar o que definiu como “a descrença quanto à confiabilidade da apuração dos votos e a infalibilidade da urna eletrônica”.

Sampaio, obviamente, não levantava dúvidas sobre o primeiro turno, em que ele próprio e Alckmin saíram vencedores. Deixava claro que sua atitude nada tinha a ver “com pedido de recontagem ou questionamento do resultado”.

Ora, então para que o trabalho? A situação era tão estranha que os advogados que atuaram na candidatura de Aécio tiveram de esclarecer que não foram consultados.

O tapetão do PSDB proporcionou aos juízes uma perda de tempo temperada com momentos de relativo humor. A íntegra do acórdão registra que Henrique Neves lembrou que, na internet, em tese, Elvis Presley está vivo. A ministra Luciana Lóssio acrescentou Michael Jackson à lista.

Mas coube a Gilmar Mendes um voto verborrágico que conseguiu atribuir a Lula e a Dilma a responsabilidade pela atitude dos tucanos.

Segundo ele, “a impressão que chega à população, de que só se abriu o processo quando determinado candidato estava à frente, gera esse tipo de suspeita. Vamos agora conter esse imaginário popular?”

E foi além: “Eu não cometo nenhuma imprecisão ao lembrar a declaração da candidata, agora eleita, presidente Dilma. Percebam que as palavras têm força: ‘A gente faz o diabo durante a eleição’. Nós podemos entender essa expressão de diversas formas, mas ‘fazer o diabo’, essa expressão tem uma carga figurativa muito grande. Será que isso significa ‘a gente é capaz até de fraudar a eleição’?”

Pode significar tudo, é claro, ou nada. O fato é que isso foi dito em João Pessoa, em março, numa reunião de Dilma com aliados. A declaração completa é a seguinte: “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição, mas quando se está no exercício do mandato, temos de nos respeitar, pois fomos eleitos pelo voto direto”.

Gilmar cita Lula, que falou, no dia 26 de outubro, que “eles não sabem do que somos capazes para garantir sua reeleição”. Faz um alerta: “Vejam o impacto disso na cabeça dos eleitores. Será que as pessoas não podem imaginar que quem diz isso é capaz de fraudar uma eleição?”, indaga. Sim, podem. Como podem achar que é uma bravata. Ou não achar nada.

Sentenças de políticos em campanha são boas, ruins, equivocadas, estapafúrdias, sensatas. A indignação seletiva de Gilmar, pinçando duas delas para justificar as suspeitas com o pleito, servem não para “pacificar os espíritos”, como ele mesmo afirmou, mas para acirrar os ânimos.

“As pessoas devem ter responsabilidade – e pessoas que ocupam ou ocuparam cargos públicos devem se comportar com alguma dignidade.”

Gilmar Mendes precisa ler Gilmar Mendes.