O último enterro de Marina, que vai se omitir no 2º turno sem que isso faça diferença para nenhum dos lados. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 8 de outubro de 2018 às 8:46
Marina silva
Tchau, querida

O Brasil assistiu ao formidável enterro de última quimera de Marina Silva.

Terminou com 1%, pouco mais de 1 milhão de votos, e conseguiu ficar atrás de bananas como Amoêdo, Henrique Meirelles e Daciolo.

É uma derrocada impressionante.

Em 2010, colheu mais de 19 milhões de votos. Em 2014, ficou em terceiro lugar com 22 milhões.

Seu desempenho no Acre não a elegeria sequer a deputada federal. Morreu junto com a Rede.

No debate da Globo, Marina cobrou de Fernando Haddad em tom autoritário, suprema juíza da humanidade, uma autocrítica dos erros do PT.

Haddad não perguntou se ela já havia feito um auto exame público de seus erros, como o de ter abraçado Aécio Neves há quatro anos, por exemplo.

Bissexta, emergindo da floresta em época de eleição com Marcos Palmeira e aquele cineasta de “Cidade de Deus”, Marina não propõe nada, apenas aponta o dedo.

Não é de direta, nem de esquerda, nem de centro.

Após o vexame, mostra mais uma vez que não aprendeu coisa alguma.

“Independentemente de quem seja o vencedor, nós estaremos na oposição. Podemos assegurar: estaremos na oposição porque é a única forma de quebrar o ciclo vicioso”, escreveu.

Em outras palavras, vai se omitir diante da onda fascista em que surfa Bolsonaro.

Vai se omitir diante de um quadro em que delinquentes foram às urnas com revólveres.

Não que faça diferença, claro. Ela é irrelevante para Bolsonaro ou Haddad, para o ganhador ou o perdedor.

Isso apenas dá a medida do grau de descolamento da realidade de Marina Silva, aquela sua tia ressentida que aparece a cada quatro anos para falar mal de todo mundo, almoça e some novamente sem deixar saudade.

Foi enterrada por si mesma. Acostuma-te à lama que te espera, Marina.

Versos íntimos [Augusto dos Anjos]

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!