O único salvo-conduto deste governo está ameaçado e Bolsonaro deveria ver em Temer seu próprio futuro. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 21 de março de 2019 às 15:18
Bolsonaro e Temer

Num governo movido a trapalhadas cuja aprovação popular despenca em queda livre, o único salvo-conduto que o mantém de pé, apenas três meses após a posse, é a reforma da previdência.

Desejo de 10 em cada 10 burocratas burgueses a serviço do grande capital, as mudanças na previdência que farão com que bilhões de reais fiquem a mercê da administração privada, justifica a incômoda sustentação de um fantoche nitidamente incapacitado intelectualmente.

O problema é que a incompetência latente, tanto do homem quanto da sua equipe formada encarregados para o serviço, já produzem efeitos que inviabilizam, de forma concreta, o já difícil e impopular projeto que empurra para a miséria completa justamente os brasileiros que do Estado mais precisam.

A falta de habilidade para lidar com um Congresso historicamente fisiológico, a egolatria insana de ministros que veem no cargo uma espécie de título monárquico e a inexistência de comunicação com os mais diferentes setores da sociedade, tornam a “encomenda” impraticável.

Penosa já seria a missão dada, portanto, se somado a tudo os agentes envolvidos ainda não tivessem que superar os vícios de alas singulares que o país, até por vontade própria, resolveu se tornar refém.

A reforma da previdência destinada especificamente para os militares – que segundo os parlamentares é condição sine qua non para a reforma geral – deu cabo de demonstrar a farsa gritante de toda a coisa.

Sem força para impor aos generais da ativa as mesmas medidas duras que estão submetendo toda a sociedade, o projeto que chegou ontem (20) na Câmara dos Deputados praticamente troca seis por meia dúzia.

Com a economia pífia dos gastos da previdência projetada para os impolutos das forças armadas, cada vez mais fica impossível manter de pé um discurso que desde o início já se mostrava falacioso.

E os parlamentares, obviamente, sabem que são eles, em primeira instância, os que se obrigam a encarar diretamente a rejeição do povo que os elegeu.

Rodrigo Maia, aliás o principal avalizador da reforma da previdência e dono da pauta que a coloca em votação, já se mostrava claramente incomodado com as diatribes do governo.

Com a desnecessária rusga causada pelo escanteado Sérgio Moro, elevou o tom e deixou diáfano que não irá aceitar que um ex-juiz de voz fina queira falar grosso com ele.

O caldo já estaria turvo demais se hoje (21) seu sogro, Moreira Franco, na esteira da prisão de Michel Temer, não tivesse também sido preso pela mesma Lava Jato que tornou Deus o ministro que um dia antes quis se mostrar relevante.

Como se vê, a reforma da previdência nunca esteve tão ameaçada e, com ele, o próprio governo.

Com os fantasmas do palácio do Jaburu lembrando a Mourão as benesses de um impeachment, Jair Bolsonaro, tão enrolado com milicianos do Rio de Janeiro, se inteligência tivesse, enxergaria na atual mazela de Michel Temer, seu próprio destino.