O vácuo para o candidato da direita. Por Moisés Mendes

Atualizado em 10 de março de 2021 às 11:21
Eduardo Leite, governador do RS, e João Doria, governador de SP

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Moisés Mendes

As pesquisas já mostraram que Luciano Huck não é uma alternativa da chamada direita de centro para enfrentar Bolsonaro. Huck tem exposição como nenhum outro, é figura manjada, mas não decola, até porque tem alta rejeição.

Sergio Moro já está fora do páreo e só conseguiria sobreviver e concorrer se acontecesse um milagre. Que partido poderia acolher o justiceiro triturado por Gilmar Mendes?

Sobram nesse centro João Doria, Luiz Henrique Mandetta, Ciro Gomes e Eduardo Leite, mesmo que Ciro, que agora ataca as mulheres atacando Dilma Rousseff, considere-se candidato de esquerda (talvez em Paris).

Desses quatro, o azarão é o que ainda não foi testado mesmo como possível candidato. É o tucano gaúcho. Doria Júnior, Mandetta e Ciro empacam com índices ao redor ou abaixo de 10%. Mesmo que seja cedo, isso quer dizer que nenhum deles entusiasma.

Eduardo Leite é a cara nova, com um discurso meia-boca, que pode ser lido como de conciliação, de paz, amor e muito muro. É nessa toada, com voz de locutor de rádio e retórica básica, quase rasa, que ele vem aí. Vai longe, se vencer uma prévia com Doria no PSDB e pegar o vácuo que a direita não consegue preencher.

Está claro, desde antes da decisão de Edson Fachin, que Lula é até agora o único em condições de ir para um segundo turno com Bolsonaro. A direita não acha um candidato.

Com Lula de adversário do genocida, a direita que era tucana terá de optar: ou vai de novo com o fascismo ou engole Lula ou bate novo recorde de abstenção, brancos e nulos e entrega tudo na mão do diabo.

E aí é que Leite pode se apresentar como o sobrinho arrumadinho salvador da direita, muito bem produzido como surpresa, no meio da polarização.

Podem até esquecer que ele teve vínculos com Bolsonaro, em quem se agarrou com força para se eleger governador em 2018. O gaúcho é apresentado de longe como a cara da nova política. De perto, tem a cara da Arena jovem.

Apenas como exemplo de efeitos da polarização, em 2002 Germano Rigotto se atravessou na disputa entre Tarso Genro e Antonio Britto, no Rio Grande do Sul, e foi eleito.

Três meses antes da eleição, o deputado Rigotto tinha 3% nas pesquisas. São outros tempos, mas uma polarização pode provocar essas surpresas nem tão surpreendentes.

E agora um chute (mas chute mesmo), usando a mesma eleição de 2002 como exemplo. Rigotto transformou-se de zebra em candidato do centro e da direta moderada no Estado em poucos meses. E o então governador Antonio Britto foi empurrado para um canto e não chegou ao segundo turno (teve apenas 12% dos votos).

O chute é este: não duvidem se Bolsonaro, dependendo dos tombos que levar até lá, não for para o segundo turno em 2022, se aparecer alguém do PSDB que possa enfrentar Lula. Podemos voltar aos velhos tempos.