Um vagalhão opressor percorreu ontem dezenas de universidades em tenebrosa amostra do que está por vir num hipotético governo do líder nas pesquisas.
Em todo o país, aulas foram invadidas por policiais sem mandado algum, notificações autoritárias e vagas foram apresentadas em determinados casos, recolhimento de materiais impressos e cartazes foram a constante.
A justificativa para as ações era ‘fiscalização contra suposta propaganda eleitoral’. Balela. Nada do que foi apreendido ou violentado fazia menção a partidos. Eram faixas, cartazes, debates e aulas sobre democracia e liberdade.
Não se tem notícias de detenções, mas a juíza eleitoral Maria Aparecida da Costa Barros havia determinado a prisão do diretor da Faculdade de Direito da UFF (Universidade Federal Fluminense), Wilson Madeira Filho, se a faixa estendida na fachada da instituição com a frase ‘Direito UFF Anti Fascista’ não fosse retirada. A faixa já tinha sido arrancada na terça-feira por policiais que, segundo estudantes, diziam: “Anti fascista é anti bolsonarista”. A faixa foi recuperada e novamente instalada. Ontem, para não ir em cana, o diretor retirou-a antes do prazo dado pela juíza. Uma outra, com o termo ‘Censurado’ foi pendurada no local.
Na UERJ, o alvo dos policiais foram as faixas ‘Marielle Vive’ e ‘Ditadura Nunca Mais’; Na UFCG (Campina Grande), os agentes tinham um ‘mandado de busca e apreensão de panfleto denominado Manifesto em defesa da democracia e da universidade pública’; No Rio Grande do Sul, a Justiça Eleitoral proibiu a realização do evento “Contra o Fascismo, pela Democracia”, uma aula pública que contaria com a presença de Guilherme Boulos e Tarso Genro que aconteceria no campus da UFRGS; Na UFGD (Dourados), a aula pública era intitulada “Esmagar o Fascismo” e igualmente foi suspensa por um mandado do TRE; Na UEPA, o professor Mário Brasil teve sua aula sobre fake news invadida pela Polícia Militar. Uma das alunas bolsonaristas chamou a polícia.
Também tiveram a visita de fardados mal encarados: UEPB, UFMG, SEPE-RJ, Unilab-Fortaleza, UNEB (Serrinha), UFU (Uberlandia), UFG, UFRGS, UCP (Petropolis), UFSJ, UFERSA, UFAM, IFB, Unifap, UEMG (Ituiutaba), UFAL, IFCE, UFPB.
Em sua página no Facebook, o professor e filósofo Pablo Ortellado solicitou a quem soubesse de mais casos que encaminhasse. Logo sua TL recebeu várias outras denúncias.
“Na Unirio, a polícia e o TSE foram sim. Invadiram os diretórios acadêmicos procurando material de campanha. Uma professora que daria uma aula sobre ditadura foi impedida. Os alunos foram dispensados”, escreveu um aluno.
Já uma professora da UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), afirmou que a sala dos professores foi coberta de capim e que um bilhete com ‘uma assinatura que remete a Hitler’ tinha sido deixado sobre a mesa.
É o roteiro já clássico, conhecido mundialmente. As ditaduras sempre começam perseguindo os setores mais críticos e ‘perigosos’ ao regime, sobretudo universidades e o todo o cenário cultural (pessoal do teatro está sempre entre os primeiros a serem violentados).
Paulatina e progressivamente a nuvem negra vai chegando a outros segmentos como o jornalismo, sindicatos e movimentos sociais para logo em seguida começarem as perseguições e prisões dos rebeldes.
O tsunami de ontem foi mais um exemplo de que, a depender do resultado das eleições do próximo domingo, ninguém poderá dizer que não foi avisado.