O vale tudo de Moro na Lava Jato levou o país ao caos. Por Mauro Donato

Atualizado em 23 de janeiro de 2020 às 14:09
Sérgio Moro. Foto: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Afinal, quem manda no país? A pergunta não se refere ao cargo de presidente da República. Aquele bate continência para a bandeira dos Estados Unidos, dispensa resposta.

O questionamento vai principalmente para outro poder tão fundamental para o funcionamento do país quanto o Executivo: o Judiciário.

A decisão de Luiz Fux de suspender – por tempo indeterminado – a implantação do juiz das garantias é o mais recente exemplo.

Dias Toffoli havia decidido a favor da iniciativa legislativa.

Toffoli é o presidente do STF e Fux o vice que está temporariamente no plantão. Simplificando, quando um deixa a cadeira o outro vem e desfaz afrontosamente o que já estava encaminhado. “In Fux we trust”, lembra?

A atitude de Fux reduz as garantias de imparcialidade nos processos e os direitos de pessoas detidas. Segundo o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), Fux ainda feriu frontalmente o pacto de tripartição de poderes.

Que segurança jurídica um país desses pode ter? Quem hoje em dia sabe dizer com absoluta certeza quem deve se submeter a quais instâncias?

Mediante a baderna em que vivemos, o Ministério Público Federal decidiu entrar na onda e desrespeitar o Supremo Tribunal Federal na cara dura: denunciou Glenn Greenwald.

O jornalista não era investigado nem tinha sido indiciado pela Polícia Federal. Como pode ser denunciado?

O procurador Wellington Oliveira ignorou ninguém menos que um ministro do STF (Gilmar Mendes), cuja liminar impedia que o jornalista fosse responsabilizado por “recepção, obtenção ou transmissão de informações publicadas em veículos de mídia, ante a proteção do sigilo constitucional da fonte jornalística”.

Uma medida justa e até certo ponto dispensável num cenário de respeito ao estado de direito já que a prerrogativa de sigilo da fonte está na Constituição Federal.

Gleen está sendo perseguido por praticar jornalismo enquanto o procurador Wellington Oliveira, ao atropelar o STF, está incorrendo em escancarado abuso de autoridade. Mas quem manda hoje?

Que lugar é este em que é preciso uma liminar para que a Constituição seja observada e um promotor desobedece a liminar?

Foi o vale tudo da Lava Jato, capitaneado por Moro, que jogou-nos nesse caos.

Com seus métodos antiéticos, ilegais, incutindo na opinião pública o sofisma de que os fins justificam os meios, Sergio Moro é o pai não apenas de Bolsonaro, mas da total falta de balizas que vemos entre os poderes hoje.

Se valia tudo lá em Curitiba então vale tudo em todo lugar. É um tal de um decretar e outro derrubar, num intervalo de poucos dias, que deixa a todos perdidos, sem condições de o cidadão médio conseguir distinguir o que é certo e o que é errado.

Sergio Moro é um ícone de juiz parcial e politiqueiro. Em 2018 ele era contra a federalização do caso do assassinato de Marielle Franco, algo que ajudaria a tirar das garras dos milicianos o processo de investigação.

Agora, fazendo parte de um governo que demonstra indícios graves de ter alguma participação nessa história, Moro é a favor da federalização.

Claro, a investigação ficaria sob seus olhos e o patrão seria informado de tudo aquilo que não se conseguiria engavetar.

O Judiciário exala um odor de desonestidade, trapaças, busca pela fama, oportunismo que assusta. É um dos 3 poderes ou é o BBB?

Mas se Moro fez o que fez, se Bolsonaro faz um discurso homenageando o torturador Ustra, se um de seus secretários faz vídeo de apologia ao nazismo e quem é indiciado é o um jornalista, daí entende-se o país de hoje.

Como disse Cunha, Deus tenha piedade.