O verdadeiro crime da propaganda racista da cerveja Devassa Negra

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 14:31

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Se você achava que a era do politicamente correto fez com que a publicidade criasse campanhas mais sensíveis e inteligente, pense duas vezes. Basta assistir a um comercial de cerveja para ver, pela enésima vez, uma loira num bar cheio de uns caras falando de futebol. É batatíssima.

Não é possível que ninguém tenha uma ideia melhor — ainda mais num mundo em que estereótipos ficam cada vez mais visados.

O Ministério da Justiça abriu um processo administrativo contra a Brasil Kirin, antiga Schincariol, por causa de um anúncio veiculado em 2010 e 2011. Nele, o desenho de uma negra, bem sexy, está ao lado da frase: “É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra”. Em seguida, em letras menores: “Devassa negra encorpada. Estilo dark ale de alta fermentação. Cremosa com aroma de malte torrado”.

A multa pode chegar a 6 milhões de reais. Amaury de Oliva, diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, acha que “há fortes indícios de publicidade abusiva, devido ao fato de a produção equiparar a mulher negra a um objeto de consumo, por meio da comparação entre seu corpo e a cerveja”.  Também afirmou que “consultou órgãos como a Secretaria de Políticas para as Mulheres, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o Conselho Federal de Psicologia”. A “investigação”, segundo ele, começou em 2011.

Dois anos para chegar a essa conclusão?? Se a cervejaria for condenada, ela deverá recolher a multa para o Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Ministério da Justiça. Poderá recorrer ao Judiciário para protelar o pagamento. Na maioria das vezes, o dinheiro demora até 10 anos para entrar nos cofres públicos.

Enquanto isso, o verão vem chegando. E, com ele, aquele festival de propagandas de cerveja com gostosas na praia e os manos bebendo e falando do Brasileirão — porque é isso que homem faz, afinal. Precisa ser assim?

Não.

A Guiness fez um comercial incrível. Um grupo de amigos está jogando basquete. Todos estão em cadeiras de rodas. Até que o jogo acaba e eles se levantam das cadeiras — com exceção de um deles, o único realmente cadeirante. Termina num pub. “Dedicação, lealdade, amizade. As escolhas que fazemos”, narra o locutor. Está vendida a cerveja. E a Guiness é preta, aliás.