O xeque mate no Brasil dos super herois da Lava Jato. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 30 de novembro de 2016 às 20:23
Dallagnol e o colega Lima
Dallagnol e o colega Lima

 

Os procuradores da Lava Jato deram um xeque mate no Brasil. Num momento de crise institucional e de conflagrações, resolveram combater o incêndio atirando gasolina à fogueira com uma chantagem.

Em coletiva sem powerpoint diretamente de Curitiba, repudiaram o que chamaram de “ataque” feito pela Câmara dos Deputados às suas investigações e à sua independência.

As alterações no pacote anticorrupção, feitas na madrugada passada, não lhes agradaram.

Carlos dos Santos Lima avisou que a força-tarefa iria abandonar os trabalhos se a “proposta de intimidação” for sancionada.

“Se nós acusarmos, nós podemos ser acusados. Nós podemos responder, inclusive, pelo nosso patrimônio. Não é possível, em nenhum estado de direito, que não se protejam promotores e procuradores contra os próprios acusados”, disse.

“Nesse sentido, a nossa proposta é de renunciar coletivamente caso essa proposta seja sancionada pelo presidente”.

Num rasgo de mimo, megalomania e uma estranhíssima noção de autonomia total, comunicou que vão “simplesmente voltar para nossas atividades.” Ora, mas não era isso o que faziam?

Ou era uma missão divina?

Dallagnol falou no “golpe mais forte” contra a Lava Jato e afirmou que o objetivo é “estancar a sangria”, citando Romero Jucá em conversa com Sérgio Machado.

“Há evidente conflito de interesses entre o que a sociedade quer e aqueles que se envolveram em atos de corrupção e têm influência dentro do Parlamento querem. O avanço de propostas como a Lei da Intimidação instaura uma ditadura da corrupção”, falou.

“Por que a sociedade brasileira vai permitir que corruptos, pessoas condenadas por corrupção, continuem na liderança da empresa Brasil?”.

Onde estava esse discurso indignado durante o vergonhoso impeachment de Dilma, capitaneado por bandidos?

São cenas explícitas de autoritarismo. Representam eles todo o Judiciário? Cármen Lúcia está de acordo? Rodrigo Janot também? Temer deve vetar e pedir desculpas de joelhos?

A oportunidade de discutir e dialogar foi destruída.

Afinal, o foro privilegiado existe só para políticos ladrões? E juízes? Na ideia original da turma de Dallagnol, os direitos de todos os cidadãos seriam restringidos?

Uma das medidas originais pretendia tornar obrigatórios, no serviço público, “testes de integridade”, feitos sem o conhecimento da pessoa. Dallagnol seria inquirido sobre a questão moral de comprar apartamentos construídos para o Minha Casa Minha Vida?

Os suspeitos de sempre deram aos homens de Sérgio Moro um status de excepcionalidade e agora temos de lidar com seus esperneios quando são contrariados.

Numa democracia, poder-se-ia aconselhá-los a fazer militância política entrando num partido ou montando o deles. O problema é que o projeto de poder do Ministério Público Federal dispensa, eventualmente, detalhes como a democracia.