“Oba-oba” da vacina leva ao descuido e à morte. Por Fernando Brito

Atualizado em 5 de dezembro de 2020 às 11:01

Originalmente publicado em TIJOLAÇO

Por Fernando Brito

Ninguém gosta de más notícias e dá-la é dever do qual quase sempre fogem os covardes.

É muito mais “fofo” dizer que temos, afinal, vacinas capazes de interromper a espiral de sofrimento e morte da Covid-19 do que dizer que, até que seja viável tê-las para a maioria da população, continuaremos a passar, por meses, um tempo de dor e destruição de vidas.

A ânsia por notícias positivas leva ao pior dos mundos no curto prazo: o relaxamento dos cuidados com a contaminação, o descuido com as reuniões familiares típica das festas de final de ano, as viagens para visitas a parentes, muitas vezes irrenunciáveis do ponto de vista emocional.

A indústria da ilusão estatística cega as pessoas sobre o óbvio, que não precisa mais que a aritmética para ser desmascarada. Os 42 mil casos, em média diária, registrados na última semana, com a taxa de letalidade de 2,7% que o país registra na pandemia significam mil mortes por dia, passadas as duas ou três semanas que, em geral, a doença leva para desenvolver-se até o estado grave.

Se duvida, confira: há três semanas, tínhamos 25 mil casos/dia e é isso que está gerando este número de 700 mortes diárias agora.

O comportamento da doença na Europa e nos Estados Unidos, alcançando picos inéditos depois de uma longa fase de relaxamento, não tem razão para não ser semelhante aqui, a menos que se leve a sério o que diz o charlatão que nos governa, de que “o brasileiro é um caso para estudos, pois mergulha no esgoto e não pega nada”.

Na sua “live” de anteontem, ele insistiu que as mortes diminuíram porque estaríamos dando tratamento precoce com a cloroquina…

Infelizmente, esta gente parece estar influindo mais que quem se dedica a estudar e acompanhar o desenvolvimento da doença. E, por conta disso, a mídia parece estar “embarcando” numa guerra de vacinas que envolve dinheiro grosso, prestígio e política.

Chegaremos ao final do ano com um número entre 190 mil e 200 mil mortes e janeiro registrará as consequências dos abusos de Natal, inevitáveis diante do comportamento irresponsável que, a partir dos governantes, contamina a maioria da população.

A vacina não poderia servir, mas está servindo, para injetar expectativas irresponsáveis na população.