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Obama fez o que Haddad deveria ter feito. Por Paulo Moreira Leite

Ele

Publicado no Brasil247.

POR PAULO MOREIRA LEITE

 

Não conheço quem não tenha vontade de aplaudir o esforço de Barack Obama para defender uma herança política que tem toda chance de ser trucidada por Donald Trump. Num universo embaralhado por espertezas de marketing e truques retórico, Obama impressiona pela firmeza de suas opinões, de quem defende o que fez sem transmitir o mais leve ressentimento pela vitória do candidato do partido adversário.

Como brasileiro, só posso lamentar que Fernando Haddad não tenha agido da mesma forma na sucessão da prefeitura de São Paulo, a disputa que esteve no centro do debate político de 2016 — ao menos no primeiro turno.

Ninguém precisa lembrar argumentos infantis para dizer que estou comparando situações diferentes. Claro que sim. Obama deixa a Casa Branca como um dos três presidentes mais populares da história dos Estados Unidos. Hillary Clinton até perdeu as eleições no Colégio Eleitoral, mas saiu da disputa com uma vantagem de 3 milhões de votos sobre o adversário.

Mesmo derrotado nas eleições para o Congresso, o Partido Democrata está longe de enfrentar um esfacelamento comparável ao Partido dos Trabalhadores. A sobrevivência do partido não está em jogo.

Em 2016, o PT sofreu uma derrota sem atenuantes. A maior vitória foi em Rio Branco, capital do Acre.

O desgaste do Partido dos Trabalhadores marcou o início e o fim da gestão de Haddad. Ele fez campanha — e venceu — quando o julgamento da AP 470 se encontrava em todos os tele-jornais. Disputou a reeleição  — e perdeu — quando o massacre midiático permitido pela Lava Jato se encontrava no ponto máximo de destruição do PT. Em resumo, quatro anos de declínio no plano nacional.

Estes argumentos ajudam a entender por que Haddad foi derrotado, ainda que tenha sido — em minha opinião — um dos melhores prefeitos da história de São Paulo. Enfrentando circunstâncias difíceis em sua gestão, deixou uma herança respeitável. Sem alongar muito: a comparação entre a cidade de 2013 e 2017 é favorável. Para começar, lembro um terreno essencial à maioria de seus moradores — o transporte público.

Apesar dessa herança, Haddad deixou a prefeitura como o sujeito que sai de um emprego e volta para casa para tocar a vida privada. Recebeu homenagens — merecidas — como um tributo pessoal, quando tratava-se, especialmente, de apoio político a um líder e adesão a uma política — também.

Na transmissão do cargo usou o termo “irmão” para se referir ao sucessor João Doria, adversário que fez uma campanha irresponsável, sem escrúpulos, de denúncias de  sua gestão.

Ao defender e explicar seu governo a cada minuto derradeiro na Casa Branca, Barack Obama deixou a presidência maior do que entrou. Com a biografia de quem iniciou-se na política como militante em bairros pobres de Chicago, assumiu a responsabilidade de quem fala do passado sem receio de encarar o futuro, sem medo de cobranças.

Deixou claro o respeito absoluto por cada cidadão que lhe deu o próprio voto, explicando por que haviam travado um combate que valeu à pena.  Jamais evitou o debate que as contradições da vitória de Trump produziu.

A derrota ofereceu — com certeza — uma chance menos auspiciosa e mais desafiadora a Fernando Haddad. Mas é possível pensar que os moradores de São Paulo tinham direito a uma mensagem semelhante.

Diante da conjuntura de destruição e retrocesso, na cidade e do Brasil, onde o dínamo das mudanças é um governo produzido por um golpe de Estado, essa postura era ainda mais necessária.

 

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