Objetivo de Doria com privatização da Dersa é esconder a corrupção, diz deputada

Atualizado em 10 de setembro de 2019 às 23:20
FOTO: Rodovia Carvalho Pinto/Governo de SP

Publicado originalmente no Brasil de Fato:

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) aprovou, na sessão ordinária desta terça-feira (10), um projeto de lei do governo estadual que extingue a empresa pública estadual Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) por 64 votos a 15. Entre os empreendimentos elaborados pela empresa estão o ainda inconcluso Rodoanel e as rodovias Imigrantes, Ayrton Senna e Bandeirantes, hoje geridas pela iniciativa privada.

Para a deputada estadual Beth Sahão, que se opôs à privatização, “a Dersa está sendo extinta para evitar a ‘CPI da Dersa’, que mostraria a corrupção no interior dos governos tucanos [do PSDB]. O real motivo não é prejuízo, não é déficit. Pelo contrário, o governo [João Doria (PSDB)] deve para a Dersa e não paga”. A reportagem aguarda dados oficiais para checar o valor do suposto “calote” do governo do Estado à empresa. O Brasil de Fato também aguarda retorno do PSDB para comentar as acusações.

Criada em 1969, a Dersa era responsável pela elaboração de projetos de engenharia na área de transportes, pela gestão do sistema de balsas estaduais e de rodovias construídas por ela própria – atribuição que perdeu em 2006, ano da última concessão realizada pelo governo.

A companhia tem também projetos não executados, cujos prazos para conclusão ficam incerta com a extinção. Entre os exemplos, estão a recuperação de parte da malha ferroviária paulista e a construção de um túnel submarino ligando Santos a Guarujá, projeto cuja elaboração custou R$ 60 milhões.

A empresa ganhou notoriedade recentemente por conta da condenação do ex-diretor Paulo Vieira de Souza em múltiplos esquemas de corrupção que beneficiaram o PSDB em São Paulo. Paulo Preto, como era conhecido, está preso desde fevereiro por desvio de dinheiro público, inserção de dados falsos em sistema da administração pública e associação criminosa.

A força-tarefa da Lava Jato, responsável pela investigação, aponta que R$ 521 milhões de reais foram desviados das obras do metrô e do trecho Sul do Rodoanel, ambas administradas pela Dersa. Representantes de partidos como PT e PSL tentaram abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em março, mas os deputados do PSDB conseguiram barrar a proposta.

Funcionários da Dersa reclamam da ingerência política do PSDB na empresa. Eles apontam que os diretores da companhia são indicados pelo governo e que há muitos anos um funcionário de carreira não ocupa a mesa diretora.