Obra jornalística de Marx e Engels é lançada na íntegra no Brasil

Atualizado em 14 de abril de 2021 às 15:54

Publicado nos Jornalistas Livres

editora Expressão Popular lançou no mês de março uma edição completa, em dois volumes, dos escritos de Karl Marx e Friederich Engels no jornal diário A Nova Gazeta Renana – Órgão da Democracia, da então jovem Liga dos Comunistas.

Esta edição, que traz textos inéditos no Brasil, foi organizada e traduzida direto do alemão pela destacada cientista política Lívia Cotrim (1959 – 2019). Contou com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo e de organizações sindicais de docentes das Universidade Federais de Pelotas (Adufpel), Ouro Preto (Adufop) e Federal Fluminense (Aduff).

Diante do ineditismo “quase completo” da obra jornalística dos autores, a importância desta edição e tradução são incalculáveis, na medida em que revelam definitivamente ao público brasileiro e lusófono as formas acabadas de intervenção crítica e organizativa dos fundadores do materialismo dialético no campo jornalístico e político revolucionário. Isto deve servir de acúmulo para a historiografia e também de fôlego para a atuação revolucionária socialista dos novos tempos que, infelizmente, em muito se assemelham à realidade da Prússia do século XIX.

A Nova Gazeta Renana (NGR) foi a público no dia 1º. de junho de 1848, em Colônia, cidade da região da Renânia, no contexto da chamada Primavera dos Povos – insurreição democrática popular iniciada em Paris, se desdobrando na Revolução Alemã – e teve suas atividades encerradas pela repressão reacionária do kaiser Frederico Guilherme IV, em 19 de maio de 1849.

De acordo com a apresentação da própria tradutora, o periódico “foi o principal instrumento de ação política de Marx nas revoluções que então se desencadearam”. Apesar disto, enquanto os materiais marxianos que examinam os desdobramentos da contrarrevolução instaurada através do golpe de Estado na França por Luís Bonaparte e outras intervenções na política são amplamente comentados, “o vasto manancial composto pelos artigos da Nova Gazeta Renana tem sido relegado, senão ao esquecimento, ao menos ao segundo plano. ” (Cotrim, 2021, v.1)

O conteúdo essencial deste esforço editorial diário, ao longo de pouco menos de um ano, é a análise detalhada do processo revolucionário alemão e os interesses das diversas classes sociais nele implicadas, particularmente os dos trabalhadores. Ao longo dos textos, pode-se observar também os problemas de fundo teórico-metodológico, sem se distanciarem da materialidade das disputas políticas-ideológicas em jogo.

A tensão permanente que determina a linha editorial do diário gira entorno da pergunta ressaltada por Cotim (2021): “quais elos poderiam vincular reivindicações imediatas da classe trabalhadora, nascidas das condições de vida igualmente imediatas, a uma revolução comunista, isto é à reivindicação de supressão do capital, das classes e do estado?”

Segundo seu biógrafo brasileiro, José Paulo Netto (Boitempo, 2020), nos meses anteriores ao lançamento da publicação, Marx via a impossibilidade de se implementar uma orientação prática à dispersão da jovem Liga dos Comunistas, ainda presa aos “ranços do conspirativismo / secretismo herdados da Liga dos Justos” e que, ao longo do processo de derrubada da autocracia prussiana, “emergiam posturas ora sectárias, ora conciliadoras diante das posições dúbias e hesitantes dos líderes burgueses”.

Por isto, em meados de 1848, ele e Engels fizeram da NGR  “o centro diretivo político-ideológico” da Liga e dos trabalhadores da Renânia, em nome da unificação da Alemanha, como república democrática indivisível, sob influência do proletariado, ainda que dentro de um horizonte de transição liberal-burguês. Ainda segundo Netto (2020): “A Neue Rheinische Zeitung (NGR) constituiu de fato o veículo através do qual Marx e seus camaradas intervieram decisivamente na Revolução Alemã”. Já segundo Lênin (1914), a NGR se firmou como o “melhor e insuperável” periódico do proletariado revolucionário.

Para jornalistas, economistas, historiadores e cientistas políticos, a edição da Expressão Popular deve representar um novo impulso para métodos de trabalho, pesquisas, teses e dissertações. Para a massa dos trabalhadores e trabalhadoras das demias áreas servirá como material de formação política e elaboração das lutas a serem empreendidas. Para os revolucionários brasileiros e lusófonos de todas as origens, certamente, será fonte de inspiração e modelo crítico de intervenção na realidade no caminho da grande transformação que, como diria Fidel Castro, deve mudar tudo que precisa ser mudado.

Por tudo isso, em tempos de exacerbação da “via prussiana” que reafirma o capitalismo dependente ultrarreacionário, tempos de negacionismo e recolonização do Brasil, de autoritarismo, façamos como fez Marx e Engles através da NGR. Em nome da Revolução Brasileira, reunir crítica teórica e intervenção política. Como sintetizado pela consigna da Expressão Popular, diante desta edição inestimável: Leia e lute!

Vida longa à obra de Marx e Engels! Viva à emancipação da classe trabalhadora! E fora governo genocida!