Obrigado, Daciolo! Dois blocos em São Paulo pegaram o mote da Ursal e hoje fazem a alegria dos foliões de esquerda

Atualizado em 16 de fevereiro de 2020 às 11:30
Apresentação do bloco no dia 25 de janeiro. Foto: Reinaldo Meneguim

Ontem, foi a vez do Acadêmicos da Ursal. Hoje é o dia do bloco Ursal.

A esquerda se diverte no Carnaval em dois blocos de São Paulo.

O Acadêmicos fica na região da Augusta, com concentração no bar Tubaína, na rua Consolação, que tem a jornalista Verónica Goyzueta como uma das proprietárias. O bloco Ursal está na Barra Funda e já tem até um galpão como sede, na rua do Lavradio, 561, onde acontecerá a concentração a partir das 14h13. O início da brincadeira está marcado para começar as 15h13.

Para Chico Silva, um dos idealizadores e administradores do bloco, 13 é um número simbólico e dispensa maiores explicações. Mas se engana quem imagina que seja um bloco petista. Tem petista, mas não só.

Uma das participantes de destaque este ano será a presidente da UNE, Carina Vitral, do PCdoB. O deputado federal Orlando Silva, também do PCdoB, disse que vai.

Carina é madrinha do bloco, que saiu pela primeira vez no ano passado. Desde então, o bloco da Ursal cresceu e gerou outro fruto, o Ursal Cultural, que já teve debate e lançamento de livro.

Para o próximo dia 14 de março, está sendo organizado o Marielle Day, com um conjunto de atividades para cobrar o esclarecimento do caso. Há dois anos, o Brasil e o mundo perguntam: “Quem mandou matar Marielle?”

A palavra Ursal foi uma invenção do cabo Daciolo, ex-bombeiro do Rio, ex-deputado federal e candidato a presidente pelo Patriotas em 2018. No debate transmitido pela Band no dia 9 de agosto, Daciolo perguntou a Ciro se, como fundador do Foro de São Paulo, o que ele poderia dizer sobre o Plano Ursal, “União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas”.

“O quê?”, respondeu Ciro Gomes antes mesmo de Daciolo concluir a pergunta. “Estimado cabo, eu tive muito prazer de conhecê-lo hoje e pelo visto o amigo também não me conhece. Eu não sei o que é isso, não fui fundador do Foro de São Paulo”.

Em seguida, Daciolo afirmou que Ciro sabia sim o que era, e avisou que no governo dele “o comunismo não terá vez”. Ciro fez troça: “A democracia é uma delícia, uma beleza, eu dei a vida por ela e continuarei dando, mas tem certos custos.”

A Ursal entrou no vocabulário da política e agora da cultura brasileira. A repercussão do bloco atravessou oceano e hoje é o tema de reportagem no jornal indiano O Hindu. Com o título “Revolta na época do Carnaval”, o correspondente Shobham Saxena escreveu:

O Carnaval brasileiro costuma ser confundido com o desfile glamouroso do Rio de Janeiro, que atrai centenas de milhares de turistas e milhões de pessoas na televisão de todo o mundo todos os anos. Mas o verdadeiro Carnaval acontece nas ruas do país na forma de festas chamadas blocos – todos centrados em um tema específico -, organizado por pessoas comuns que compõem o samba e o tocam por horas com seus amigos e vizinhos. O Bloco Ursal foi criado por um grupo de jornalistas em 2019 como reação a um episódio bizarro durante o debate eleitoral de 2018.

Reportagem no jornal indiano O Hindu

No ano passado, o bloco Ursal homenageou Fidel Castro. Este ano, o ex-presidente do Uruguai José Mujica será o tema do bloco. É uma homenagem suprapartidária, mas circunscrita ao campo da esquerda.

O plano Ursal, com a unidade dos países latino-americanos, nunca existiu, mas em território brasileiro a unidade da esquerda sempre foi um objetivo, fundamental para derrotar o projeto da extrema direita. Ainda não aconteceu na política, mas no Carnaval de rua ela já é uma realidade.

Em 2019, o Acadêmicos do Ursal e o bloco Ursal saíram no mesmo dia. Este ano, os organizadores chegaram a um entendimento: no sábado, saiu um. No domingo, sairá outro. Muitos os que brincaram ontem na Consolação estarão hoje na Barra Funda.

“No Carnaval, não tem divisão”, conta Chico Alves. “Todo mundo quer brincar, mas uma brincadeira consciente: passamos o nosso recado, com humor e arte. Viva o Carnaval! E obrigado, cabo Daciolo!”, disse.

Daciolo e Ciro Gomes no debate em que a Ursal foi lançada

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