Obrigado por unir o Brasil, Trump! Por Miguel do Rosário

Nova pesquisa Quaest mostra que 84% dos brasileiros querem união nacional contra os ataques do governo americano

Atualizado em 16 de julho de 2025 às 11:16
Donald Trump. Reprodução

“A ironia da história é que a própria força que um povo considera seu maior orgulho frequentemente se torna a fonte de sua maior fraqueza”, dizia Reinhold Niebuhr, em seu clássico de 1952, A Ironia da História Americana.

A frase se adapta perfeitamente aos ataques de Trump ao Brasil e às articulações bolsonaristas que os motivaram. O que os bolsonaristas achavam que seria seu maior trunfo, se revela agora a sua debilidade mais fatal. A aliança deles com Trump está sendo vista, por uma maioria esmagadora, como uma infame traição à pátria brasileira.

Essa ironia, a propósito, se cristalizou maravilhosamente na tentativa do PL, partido de Bolsonaro, de aprovar uma moção de “louvor” ao presidente Donald Trump, horas antes da carta do líder americano anunciando tarifas devastadoras de 50% contra o Brasil.

Como diria um astrofísico, é uma ironia esférica. É irônica seja qual for o ângulo pelo qual a analisamos.

A estratégia do PL estourou na cara do próprio partido em questão de horas. Em primeiro lugar, não havia motivo algum para essa moção ridícula. Mesmo antes dos ataques ao Brasil, ele já se revelara um péssimo presidente tanto para os americanos quanto para o mundo.

Há outro lado ainda mais engraçado: talvez o PL esteja certo, talvez o PT, a esquerda e o próprio centro deveriam se unir nessa moção de “louvor a Trump”, embora por motivos completamente opostos. Trump de fato conseguiu o que não se via há muito tempo: unir o Brasil. Ou melhor, para não sermos exagerados, quase unir o Brasil.

A pesquisa Genial/Quaest divulgada hoje mostra que impressionantes 84% dos brasileiros querem união nacional em defesa da nossa soberania, das nossas instituições democráticas e da nossa economia.

União nacional atravessa todos os espectros políticos

O que mais chama atenção nos resultados é como esse sentimento em defesa da soberania nacional conseguiu unir brasileiros de todas as orientações políticas. Entre os brasileiros identificados como lulistas ou petistas, 93% defendem essa união. Entre a esquerda não lulista, o percentual chega a 95%. Entre quem não tem posicionamento político definido, 84% também apoiam a união nacional.

Mas o dado mais surpreendente vem da própria direita. Mesmo entre quem é de direita mas não bolsonarista, a maioria defende a união nacional. E o que é quase chocante: entre os próprios bolsonaristas, 74% defendem também a união de governo e oposição em prol do interesse nacional.

Aprovação do governo melhora sensivelmente

A aprovação do governo Lula melhorou significativamente entre maio e julho. Na pesquisa Quaest, a aprovação subiu de 40% para 43%, enquanto a rejeição caiu de 57% para 53%. Somando a subida de 3 pontos na aprovação com a queda de 4 pontos na rejeição, temos uma melhora total de 7 pontos percentuais no saldo do governo.

Houve uma melhora expressiva em alguns segmentos específicos. Entre as mulheres, houve uma melhora de 4 pontos, possivelmente motivada não apenas pela questão política da soberania, mas também pela queda na inflação de alimentos.

Inflação de alimentos impacta aprovação

A pesquisa Quaest mostra que houve uma melhora expressiva na percepção da população sobre os preços dos alimentos, confirmando a tese de que a inflação dos alimentos acompanha a aprovação do governo. Quanto mais cai a inflação de alimentos, melhor a aprovação do governo entre alguns segmentos da população.

Melhora de opinião sobre o governo

Uma das mudanças mais significativas na aprovação do governo foi a melhora expressiva entre os brasileiros mais instruídos. Entre quem tem ensino superior completo, a aprovação de Lula disparou de 33% para 45% – um salto de 12 pontos percentuais. Esse movimento é particularmente importante porque puxa a opinião pública, influencia a classe média e movimenta esse centro influente da opinião pública que são as comunidades mais instruídas.

Houve também melhora significativa entre as camadas médias. Entre as famílias com renda de 2 a 5 salários mínimos – setor muito expressivo na população brasileira – a aprovação melhorou 4 pontos, saltando de 39% para 43%, com queda correspondente na rejeição.

Entre quem ganha mais de 5 salários mínimos também houve melhora na aprovação, de 33% para 37%.

Católicos voltam a aprovar, evangélicos mantêm rejeição

Entre os católicos, Lula voltou a ter forte aprovação, atingindo 50% a 51%. Já entre os evangélicos, a situação não mudou: Lula continua com reprovação muito forte de 69% e apenas 28% de aprovação – a pior aprovação entre evangélicos no histórico da Quaest.

Eleitores de 2022 mantêm posições, mas abstencionistas aderem

Entre quem votou em Lula no segundo turno de 2022, a aprovação se mantém alta, em 74%. Entre quem votou em Bolsonaro, apenas 9% aprovam Lula. Mas houve melhora significativa entre quem não foi votar ou votou nulo em 2022: a aprovação subiu para 31%, dado que provavelmente está fazendo a diferença nesta pesquisa.

Esquerda se unifica após ataques de Trump

A mudança mais significativa observada foi entre dois setores específicos. Entre quem é de esquerda mas não lulista, 82% agora aprovam o governo Lula. Esse é mais um sinal de que os ataques de Trump conseguiram unir a esquerda, que andava com algumas rachaduras internas, mas que voltou a convergir diante das ameaças externas.

Maioria conhece carta de Trump, mas base lulista melhorou também por outros motivos

A pesquisa mostra que 66% dos brasileiros sabiam da carta de Trump a Lula com as ameaças às nossas instituições democráticas e a tentativa de chantagear o Brasil. Outros 33% não sabiam, mostrando que uma parte da variação positiva não veio apenas da questão geopolítica.

Um dado interessante: entre lulistas e petistas, 47% não sabiam da carta de Trump – quase metade. Ou seja, uma parte da melhora na aprovação do governo entre os lulistas deve ter vindo também da questão econômica, especialmente da melhora na inflação de alimentos.

Brasileiros rejeitam narrativa de Trump

A maioria dos brasileiros, 63%, acha que a afirmação de Trump de que a relação comercial entre os países é injusta está incorreta – ou seja, que Trump mentiu na carta a Lula. Interessante que até mesmo entre a direita bolsonarista, o principal grupo, 48%, acha que Trump não foi sincero em suas acusações ao Brasil.

Uma maioria ainda mais expressiva, de 72%, acha que Trump está errado ao impor tarifas ao Brasil alegando perseguição a Bolsonaro. Até mesmo a direita bolsonarista e não bolsonarista acha que Trump está errado nessa questão.

Além disso, uma maioria expressiva de 57% acha que Trump não tem direito de criticar processos judiciais brasileiros.

Maioria acha que Lula está do “lado certo” no embate com Trump

Entretanto, não colou a tentativa desesperada do bolsonarismo de pespegar em Lula a “culpa” pelo tarifaço de Trump: a maior parte dos brasileiros, 44%, acha que Lula é o lado “mais certo” nesse embate, contra apenas 29% que consideram Bolsonaro e seus aliados como os mocinhos.

Maioria apoia justiça tributária

A pesquisa revela um apoio expressivo da população às medidas de justiça tributária. Impressionantes 63% dos brasileiros acham que o governo deveria aumentar impostos dos mais ricos para diminuir a taxação dos mais pobres. Esse apoio atravessa praticamente todos os campos políticos: 82% dos petistas, 89% da esquerda não petista, 65% de quem não tem posicionamento político, 37% da direita não bolsonarista e até 46% dos próprios bolsonaristas defendem taxar mais os ricos para aliviar a carga dos mais pobres.

Uma maioria ainda maior, de 75%, é favorável à elevação da faixa de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000. Já 60% apoiam a elevação da taxa de imposto para os super-ricos.

Potencial de crescimento da aprovação de Lula na agenda tributária

Apesar das pesquisas mostrarem que a maioria da população apoia medidas de justiça tributária, há um grande potencial de crescimento para essa agenda. Quase metade da população ainda não ficou sabendo da disputa entre governo e congresso a respeito da justiça tributária. Entre evangélicos, 55% ainda não ficaram sabendo, e entre quem não tem posicionamento político, 57% também desconhecem o tema.

Segundo o CEO da Quaest, Felipe Nunes, a ideia de justiça tributária é conhecida apenas por 43% dos brasileiros, o que mostra que a alta na aprovação do governo deve ter mais a ver com a questão dos ataques de Trump e com a melhora na economia. Por isso mesmo, diz ele, há tempo e potencial para melhorar a aprovação do governo através dessa agenda, já que outros pontos da pesquisa mostram que a maioria apoia a justiça tributária quando fica sabendo do assunto.

Inflação de alimentos ainda preocupa

Um ponto positivo é que caiu o percentual de pessoas que identificaram alta nos preços dos alimentos. O número caiu de 88% para 76% – uma melhora significativa. Porém, ainda é um percentual muito alto, o que significa que a questão dos preços dos alimentos e a inflação de forma geral ainda são uma preocupação importante para a qual o governo deve prestar muita atenção.

Metodologia

A pesquisa Quaest ouviu 2.004 pessoas entre os dias 10 e 14 de julho de 2025. O nível de confiabilidade é de 95% e a margem de erro é de 2 pontos percentuais. A pesquisa foi encomendada pela Genial Investimentos.

Clique aqui para baixar a íntegra da pesquisa.