Ocultação de patrimônio: Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões a Michelle antes de depor

Atualizado em 20 de agosto de 2025 às 22:45
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o ex-presidente Jair Bolsonaro durante evento do PL em São Paulo, em maio de 2023. Foto: Carla Carniel/Reuters

A Polícia Federal apontou em relatório final encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente Jair Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões para a conta da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro na véspera de prestar depoimento à corporação. A operação ocorreu em 21 de fevereiro de 2024, um dia antes de Bolsonaro ser ouvido em inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado.

Segundo os investigadores, a transferência foi motivada pelo receio de bloqueio judicial de bens e caracterizaria tentativa de resguardar o patrimônio do ex-presidente. O movimento ocorreu em um contexto de pressão crescente, marcado por pedidos de medidas cautelares e discussões sobre eventual constrição de recursos ligados a Bolsonaro.

Em relatório, a PF destacou que Bolsonaro omitiu repasses a Eduardo Bolsonaro durante depoimento e não apresentou justificativas para a transferência a Michelle em valor idêntico. Os agentes também identificaram saques em espécie e repasses a aliados próximos sem explicação plausível, além da fragmentação de valores em depósitos, prática associada à ocultação patrimonial.

Fachada do Supremo Tribunal Federal. Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

“O temor de bloqueio de bens motivou a transferência”, registrou a PF no documento. A corporação considera que as movimentações financeiras reforçam indícios de que Bolsonaro buscava dificultar o rastreamento de recursos em meio às investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal.

A Polícia Federal também indiciou Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por coação de autoridades responsáveis pela ação penal do golpe. A investigação aponta que ambos tentaram atrapalhar o processo judicial, no qual o ex-presidente figura como réu.

Além disso, o relatório cita indícios de tentativa de abolição do Estado democrático de direito, uma vez que ações de Bolsonaro e Eduardo teriam como alvo direto instituições como o STF e o Congresso Nacional. O material apreendido ainda mostra que o ex-presidente manteve intensa produção e propagação de mensagens em redes sociais, mesmo após determinação judicial que restringia sua atuação digital.