Odebrecht reclama de vazamentos após Tacla Duran apontar indícios de fraude. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 26 de outubro de 2017 às 7:09
Rodrigo Tacla Durán, em seu refúgio na Espanha
Extrato: a data está no padrão português

A Odebrecht reclamou ao ministro Edson Fachin de vazamentos de anexos da delação de seus executivos que deveriam ser mantidas sob sigilo.

Segundo nota publicada por Lauro Jardim, em seu blog em O Globo, Fachin encaminhou a reclamação à procuradora geral da república, Rachel Dodge, por considerar que a guarda do sigilo cabe a ela e seus subordinados, não a ele — o vazamento ocorreu no período de Rodrigo Janot.

Anexos da delação também estão sob a guarda do juiz Sergio Moro, em Curitiba, que facultou apenas aos procuradores  o acesso ao banco de dados da Odebrecht.

Quem vazou os documentos sigilosos cometeu crime, mas o que preocupa a Odebrecht é que documentos vazados começaram a ser contestados e, conforme reportagem conjunta do DCM e GGN, Rodrigo Tacla Duran, ex-operador do grupo, apontou que alguns documentos podem ter sido falsificados.

Com as contradições escancaradas, a defesa dos acusados também reclama acesso, para poder mostrar que as provas apresentadas nas denúncias podem ter sido fraudadas.

A suspeita é que os procuradores entram lá e pinçam apenas o que interessa à acusação. Pior: o que foi juntado apresenta sinais de adulteração.

O que disse Duran já é suficiente para colocar toda a delação sob suspeita. Quem fez as montagens? A  Odebrecht ou alguém ligado à Procuradoria?

Algumas dessas contradições foram registradas no livro de Duran, divulgados com exclusividade pela reportagem do DCM e GGN.

Por exemplo, nos anexos da delação de Leandra A. Azevedo consta ordem de pagamento, com data de 28 de setembro de 2012, de US$ 1.000.000,00 da conta da Innovation para a Waterford Management Gourp Inc.

Mas no extrato bancário supostamente montado, a transferência consta como saída de 27 de setembro de 2012, ou seja, antes da ordem de pagamento.

Nos extratos, também há somas erradas e alguns extratos apresentam datas no padrão brasileiro, com dia, mês e ano, e não americano, com mês, dia e ano.

Em um deles, do Meinl Bank de Antígua, o banco criado pela Odebrecht para pagar propinas no exterior, está escrito 14/out/2016 – out de outubro.

Em inglês, o correto seria oct, de october. O extrato é todo apresentado na língua inglesa, exceto na data, que pode ter sido montada, para se ajustar a alguma delação.

Esta é a suspeita.

Para que não restasse dúvida, a defesa de todos os acusados — isso inclui o ex-presidente Lula — reclama que deveria ter acesso franqueado ao banco de dados da empresa.

Mas Sergio Moro nega. Só os procuradores acessam esses anexos da delação — como foram vazados, a responsabilidade recai sobre eles.

Agora, a Odebrecht quer saber quem vazou os documentos que, em vez de ajudarem na composição de um enredo, serviram para colocar em dúvida muito do que disseram seus executivos.

O ministro Edson Fachin jogou a batata quente para a mão da procuradora Raquel Dodge.

Raquel contesta os métodos de trabalho da equipe de Janot ou de procuradores de Curitiba, que usavam inclusive o whatsapp para troca de mensagens que definiriam termos de acordos de delação premiada.

Não será, portanto, surpresa se Rachel Dodge abrir algum tipo de investigação para apurar os vazamentos no âmbito da Procuradoria Geral da República.