E se Lula nos entrevistasse?
E se ele, detido e retirado do convívio em sociedade, questionasse o que estamos fazendo desde que foi abduzido para a República de Curitiba?
Destaco a seguir oito perguntas que o ex-presidente fez durante a entrevista de ontem, a primeira após mais de um ano encarcerado, depois de juízes, Supremo Tribunal Federal e Polícia Federal fazerem gato e sapato para evitar que ocorresse:
- Cadê aquele cidadão dos R$ 7 milhões? Cadê a imprensa que não está atrás do Queiroz?
- Imagine se os milicianos do Bolsonaro fossem amigos da minha família?
- Onde Paulo Guedes fez esse curso de economia dele?
- Estou vendo a obsessão que está acontecendo agora de destruir a soberania nacional, de juntar R$ 1 trilhão com a reforma da Previdência. Para que? Às custas dos aposentados?
- E aqueles juízes do TRF-4 que nem leram a sentença? (Aqui Lula versava sobre ter consciência tranquila, mas podemos – e devemos – questionar onde estão todos os integrantes do Judiciário que escreveram a ópera bufa “Anticorrupissaum” que demonstravam tamanho empenho e patriotismo chegando ao ponto de interromper as próprias férias pelo dever cívico)
- Quem é o primeiro inimigo do Bolsonaro? (Neste ponto da entrevista o ex-presidente perguntou e ele mesmo respondeu afirmando que era Mourão, mas gostaria que refletíssemos bem e respondêssemos com sinceridade: Quem é o primeiro inimigo de Bolsonaro?)
- Militares, por que tanto ódio ao PT?
- Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. (Foi em tom de afirmação mas o contexto era de interrogação. Aqueles que votaram nessa turma que está aí, irão fazer a autocrítica que tanto cobravam do PT e que muitos usaram como justificativa infame para optarem por passar o comando do navio para um capitão tresloucado, despreparado e irascível?)
O que responderíamos caso fôssemos instados a responder aos questionamentos do ex-presidente que perdeu um neto e um irmão durante esse período?
E se Lula tivesse feito essas perguntas objetivas direcionadas a nós? E se ele perguntasse o que estamos esperando para acender o pavio ao assistir impávidos a todos os retrocessos que um bando de malucos está a nos impor?
O que estamos fazendo desde a ascensão daquilo que o cientista político André Singer define como “PJ” e “PF” (Partido da Justiça e Partido Fardado)?
Quando iremos pegar pelos colarinhos aquele amigo ou parente que bateu panela e iremos perguntar por que Lula está preso e exigir uma resposta inteligível e embasada?
Afinal de contas, ninguém é obrigado a gostar de Lula. E ele errou. O principal erro do governo Lula, segundo até mesmo André Singer, “foi acreditar que poderia eliminar a pobreza e reduzir a desigualdade de cima para baixo. Não é. Chegado certo limite, as classes dominantes repõem o atraso”.
Mas daí a colocar alguém atrás das grades durante período eleitoral e fundamentado em “convicções” em vez de provas, vai um pulo.
A Justiça mesmo acabou de determinar que a OAS devolva a Lula o valor pago em parcelas pelo tríplex. Valores desembolsado para quitar cotas de um prédio que estava sendo construído em forma de cooperativa antes da OAS assumir o empreendimento e que sempre foram declaradas no Imposto de Renda.
Se era propina, por que pagou? Se a Justiça manda devolver o que foi pago, onde está o crime e quem o cometeu? Se o tríplex já havia sido penhorado como bem da OAS em outro processo, de quem afinal é o imóvel?
Lula fez perguntas que fazem-nos questionar até onde vai nossa passividade diante de injustiças.
Responderemos?