Olavo de Carvalho, Fernando Henrique Cardoso e os comunistas do Plano Real. Por Luís Nassif

Atualizado em 28 de março de 2019 às 6:45

Publicado originalmente no Jornal GGN

Montagem de Olavo de Carvalho (à esquerda) e FHC (à direita).

POR LUÍS NASSIF

Admito que nos anos 90 convidei Olavo de Carvalho para jantar em casa. E admito que foi uma visita muito divertida e prazeirosa. Ele havia trabalhado no Jornal da Tarde alguns anos antes de mim. Conversamos sobre o tema. E ele me surpreendeu ao admitir que era louco.

– Sou louco, sim. Mas tenho uma vantagem: percebo quando vou entrar em surto e me interno antes.

Era parte do seu humor.

Quem primeiro me alertou sobre Olavo foi minha ex-esposa. Tinha um amigo de BH que frequentara seus cursos e me encaminhou um artigo muito interessante, sobre o apego dos intelectuais pelas teorias que os consagraram. Chamava-se “Ciência e Demência”.

Mencionei o artigo em uma coluna, na Folha, e recebi um e-mail emocionado do Olavo, por ter furado o cordão de isolamento da grande imprensa. Pouco antes, ele tinha algum espaço em O Globo, mas do qual foi expelido pelas posições radicais. Depois, baixou sobre ele a cortina da invisibilidade, enquanto discípulos, valendo-se de todo o instrumento retórico que ele havia criado, galgavam posições na imprensa.

Digo isso para salientar que Olavo nunca foi um arrivista, como tantos. Era um escoteiro solitário e corajoso, plantando suas ideias em cursos e pregações. Me encantou tanto esse aspecto escoteiro dele, que aceitei seu convite para uma palestra em Curitiba, onde ele começara a plantar suas sementes.

Só ao chegar lá me dei conta do messianismo que havia se instalado entre seus adeptos. Fiz uma palestra sobre a destruição da economia brasileira pelos juros do Banco Central e voltei correndo, arrependido até a medula pela solidariedade a ele.

Mas durante o jantar aconteceu um diálogo curioso, que ajuda a explicar a piração de Paulo Guedes hoje, no Senado, chamando de esquerdistas os economistas do Real.

Olavo sustentava que FHC era um perigoso esquerdista e que o Banco Central era o último reduto de resistência. Discordei. Disse que as políticas monetária e cambial do BC estavam destruindo o setor produtivo.

No dia seguinte, em seu blog, havia um artigo dele dizendo que a arma de FHC para implantar o comunismo era o próprio Banco Central.

Terminado o jantar, fui levá-lo à pensão em que se hospedava em São Paulo, uma cabeça de porco caindo aos pedaços, desmentindo seus críticos que atribuíam suas posições a interesses financeiros.

Posteriormente se fixou nos Estados Unidos, bancado por Guilherme Afif Domingos e a Associação Comercial de São Paulo. Depois disso, passou a burilar seu discurso aos impulsos de sua assembleia de seguidores. Tornou-se um propagandista apenas. E perigoso, porque semeando a irracionalidade em um país que enlouqueceu.

O que Olavo dizia por convicção, seus seguidores, como Guedes, repetem por malandragem.