Olavo tinha razão: o papel do MBL foi “dar a bundinha” para os velhos políticos. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 11 de julho de 2020 às 10:16

A prisão por lavagem de dinheiro de dois ativistas ligados ao MBL remete a um vídeo que Olavo de Carvalho gravou durante as manifestações incentivadas pela Fiesp, em 2016.

“Se tem uma pessoa que funcionou como símbolo, não como líder da manifestação, fui eu. Não tinha mais ninguém. Não tinha ninguém com o cartaz do Lobão, muito menos com o cartaz do Fábio Ostermann. Nem Kim (Kataguiri). Só tinha uma figura, que era eu. Aí você vê: a mídia vai entrevistar quem? Este? Não. Pega um cara chamado Kim, outros insignificantes e faz deles os líderes. Foi a mídia que fez isso. A população não os conhecia. Tornaram-se conhecidos depois do movimento, graças à mídia. Foi um efeito circular. Prepara esses meninos para que eles sejam comidos pela elite tucana, e eles foram comidos”.

Quando Olavo de Carvalho fez essa declaração, não estava claro ainda que eles estavam sendo “comidos”.

Mas agora não há mais nenhuma dúvida.

Pelo discurso, pelo comportamento, pela forma como fazem política, semelhante ao que o guru da extrema direita chama de “elite tucana”.

Na época, poderia ser chamada de “elite tucana”. Depois da delação do Joesley, que reduziu Aécio Neves a pó, agora pode ser chamada apenas de elite, porque sempre foi elite. Apenas elite. Muda de legenda, mas continua com a mesma tática. Tem na mídia tradicional, a velha imprensa, o instrumento de sedução.

Alessander Mônaco Ferreira e Carlos Augusto de Moraes Afonso (conhecido como Luciano Ayan) foram levados para a cadeia na manhã de ontem, para cumprir mandado de prisão temporária. São investigados por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. Os promotores afirmam que a família Ferreira dos Santos, criadora do MBL, deve cerca de R$ 400 milhões em impostos federais, dinheiro que teria sido desviado.

Segundo nota do MP, a ação de Alessander e Carlos Augusto dificulta o rastreamento desses recursos.

“As evidências já obtidas indicam que estes envolvidos, entre outros, construíram efetiva blindagem patrimonial composta por um número significativo de pessoas jurídicas, tornando o fluxo de recursos extremamente difícil de ser rastreado, inclusive utilizando-se de criptoativos [são uma representação digital de valores transacionados, como as criptomoedas], e interpostas pessoas”, destaca nota do Ministério Público.

Com seus amigos na cadeia, o MBL encara a realidade de quem foi usado pelo sistema político e agora está sendo descartado. Olavo de Carvalho, é preciso reconhecer, tinha razão quando comparou a relação do MBL com a política tradicional a um esquema de prostituição.

“São os menininhos que vão todos lá para Brasília oferecer as bundinhas para os políticos, para serem comidos por pessoas ilustres.”

Já foram comidos, e agora, quando o MBL caiu em desgraça, essas pessoas ilustres não dão nem um telefonema.