Olimpíadas “perderam o sentido” mas é tarde demais para cancelar, diz membro do comitê

Atualizado em 4 de junho de 2021 às 9:24

Publicado na RFI

Logo da Olimpíada de Tóquio 2020. (Charly TRIBALLEAU / AFP)

O Japão está “refém” dos Jogos Olímpicos, previstos para daqui a sete semanas no país, afirmou uma membro do comitê olímpico local. A ex-judoca Kaori Yamaguchi avaliou, em um artigo publicado nesta sexta-feira (4), que as Olimpíadas “perderam o sentido”, mas é “tarde demais” para cancelar o megaevento.

Apesar da nova onda de coronavírus que atinge o país e da oposição de uma grande maioria dos japoneses, por conta da situação sanitária mundial, os Jogos ocorrerão a partir de 23 de julho, insistem os organizadores e o governo do país asiático.

“Acho que nós perdemos a ocasião de cancelá-los”, argumentou a ex-judoca, que integra o comitê olímpico, no texto publicado pela agência Kyodo. “Estamos reféns de uma situação na qual não podemos parar mais nada”, disse a medalha de bronze nos Jogos de Seul, em 1988. “Os Jogos já perderam o sentido e estão mantidos apenas porque é preciso.”

Yamaguchi também criticou a atitude do governo japonês e do Comitê Olímpico Internacional (COI) que, segundo ela, “parecem querer evitar o diálogo” sobre o delicado assunto. “O COI parece pensar que a opinião pública do Japão não é importante”, afirmou.

De acordo com diversas pesquisas, a população japonesa preferia que as Olimpíadas fossem adiadas novamente, a exemplo do que já ocorreu em 2020 devido à pandemia. Dez dos 47 departamentos do arquipélago permanecem em estado de emergência pelo avanço da Covid-19 – é nesta situação que o Japão se prepara para receber milhares de competidores do mundo inteiro.

Jogos sob estado de emergência?

O vice-presidente do COI, John Coates, declarou no mês passado que os Jogos deveriam ocorrer mesmo se Tóquio estiver em estado de emergência, em julho. Mas o principal conselheiro médico do governo, Shigeru Omi, disse nesta sexta-feira que o país deveria evitar receber o evento se a atual situação sanitária se prolongar além de 20 de junho. Ele exortou as autoridades a reforçar as restrições para conter a doença para melhorar rapidamente o quadro, a fim de manter o calendário planejado para os Jogos.

A campanha de vacinação no Japão, iniciada em fevereiro, é criticada pela lentidão. Apenas 3% da população japonesa recebeu as duas doses da vacina contra o coronavírus.

Patrocinadores pressionam por adiamento, diz Financial Times

Também nesta sexta-feira, o jornal britânico Financial Times indica que “grandes patrocinadores japoneses” pedem, em conversas privadas, que as Olimpíadas sejam adiadas por pelo menos alguns meses, para que mais espectadores possam prestigiar o evento. A presidente da Tóquio-2020, Seiko Hashimoto, não respondeu a uma pergunta sobre este assunto, em uma coletiva de imprensa.

O que é certo é que os torcedores estrangeiros não poderão ir ao Japão para as Olimpíadas. Os organizadores devem decidir nas próximas semanas se o público local estará autorizado a acompanhar as competições e, se sim, em que condições a abertura dos portões será possível.

(Com informações da AFP)