“Onde a gente que é gente se entende”: Agnaldo Timóteo lançou hinos gays bem antes de Freddie Mercury

Atualizado em 4 de abril de 2021 às 8:27

Morto em decorrência da covid-19, Agnaldo Timóteo é autor de três hinos gays lançados em plena ditadura — muito antes, portanto, de “I Want to Break Free”, do Queen, de 1984.

Escritas por ele mesmo, o que não era comum em sua carreira, as canções “Galeria do Amor” (1975), “Perdido na Noite” (1976) e “Eu, Pecador” (1977) falam de sua experiência homossexual.

“Galeria do Amor” homenageia a Galeria Alaska, uma famosa boate gay do Rio de Janeiro, num tempo em que os “entendidos” se entendiam.

Numa noite de insônia saí
Procurando emoções diferentes
E depois de algum tempo parei

Curioso por certo ambiente
Onde muitos tentavam encontrar
O amor numa troca de olhar

Na galeria do amor é assim
Muita gente à procura de gente (…)

Onde a gente que é gente se entende
Onde pode se amar livremente

Em “Eu, Pecador”, ele aborda a culpa cristã por sua sexualidade:

Senhor, eu sou pecador
e venho confessar porque pequei
Senhor, foi tudo por amor
Foi tudo por loucura
mas eu gostei

Senhor, não pude suportar
a estranha sensação de experimentar
Um amor por Vós concebido
Um amor proibido pela vossa lei

Em entrevista ao jornalista e escritor Paulo Cesar Araújo, ele disse que “Galeria do Amor” era “audaciosa demais para a época”.

“Mas eu não quero nem saber, eu tinha que fazer e fiz”, falou.

Nunca saiu do armário totalmente, no entanto.

Questionado pela debilóide Luciana Gimenez, foi misterioso: “Nem assumido, nem desassumido — apenas Agnaldo Timóteo”.