Os manifestantes em São Paulo falam ao Diário o que acham do apoio do colunista e respondem se o viram nos protestos.
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O colunista Arnaldo Jabor fez um dos mea culpas mais espetaculares na história do jornalismo mundial, notável em dois aspectos: pela convicção e truculência do primeiro comentário, devidamente renegado; e pela velocidade da mudança de ideia.
“Só os tolos e os mortos não mudam de opinião”, disse o poeta e diplomata abolicionista James Russell Lowell. Entendido. Mas uma autocrítica dessa violência, em menos de uma semana, é um caso de estudo.
No Jornal da Globo, Jabor dirigiu palavras virulentas aos manifestantes do Movimento Passe Livre. Apoplético, comparou-os ao PCC, classificou-os de revoltosos de classe média, xingou-os de filhinhos de papai. “No fundo, tudo é uma imensa ignorância política. Uma burrice misturada a um rancor”, cravou.
Na segunda-feira, na CBN, cinco dias mais tarde, era um homem diferente. “Outro dia eu errei, sim. Errei na avaliação do primeiro dia das manifestações contra o aumento das passagens em São Paulo. Falei na TV sobre o que me pareceu um bando de irresponsáveis fazendo provocações por causa de 20 centavos. Era muito mais que isso”, disse o jornalista. “Hoje, eu acho que o MPL se expandiu como uma força política original. Na mídia só aparecem narrativas de fracasso, de impunidades, de derrotas diante do mal. Essa energia do Passe Livre tem que ser canalizada para melhorar as condições de vida no Brasil”.
Jabor está pegando uma carona oportunista no MPL. Lançou um anzol para ver se pesca alguma coisa. O movimento capturou uma insatisfação, com sua bandeira da redução da tarifa de ônibus; hoje, o espectro das manifestações é amplo. Calcula-se que 235 mil pessoas saíram às ruas em todo o Brasil para protestar. O MPL vai na vanguarda, batendo bumbo. Atrás, gente gritando slogans contra Dilma, contra a Copa, contra a lei da maioridade penal, contra prefeitos, contra governadores, contra os hospitais públicos, contra a corrupção etc etc. Alguns estão ali pela farra.
Mas e Jabor? Onde estava o redivivo Arnaldo Jabor? Ali, junto do povo?
Nas ruas de São Paulo, 65 mil andaram do Largo da Batata até diversos pontos. Multidões foram para a Paulista e para a Ponte Estaiada. Um grupo rumou para a TV Globo. Outro para o Palácio dos Bandeirantes, onde houve uma tentativa de invasão.
Andres Vera, nosso cinegrafista, e eu saímos à procura de Arnaldo Jabor nos protestos em SP. Perguntamos a diversas pessoas se o haviam visto. Nada. Teria ele mudado de ideia novamente?
“Não o vimos”, disse Dayane Esteves Nogueira, que estava com o namorado Marcos Aurélio. “Ele viajou. É hipocrisia”, continuou Marcos. “A gente já está crescido para acreditar nesse tipo de coisa”.
“Não faz diferença o que ele pensa. Intelectualmente, ele é insignificante”, disse o professor de português Paulo Monteiro, que também não avistou o colunista em lugar nenhum.
“Jabor percebeu a cagada e tentou voltar atrás. É patético vê-lo dando uma de esperto”, afimou a professora particular de italiano Tatiara Pinto.
Não houve notícia de Arnaldo Jabor em Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro – nenhuma das capitais onde houve manifestações. Se o encontrassem, os líderes do MPL provavelmente não o receberiam bem. “Sob hipótese alguma podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés”, disse Paulo Motoryn, membro do grupo, num artigo.
“Esse cara é um palhaço”, declarou o estudante Marcos Azêdo, numa pausa de um grito de guerra. “Se ele começar a gostar muito de nós, é sinal de que precisamos repensar alguma coisa”.