Onde Luciana Genro acertou e onde errou com sua proposta de eleições gerais. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 10 de dezembro de 2015 às 21:07
Boa ideia, mas problemas de execução
Boa ideia, mas problemas de execução

Luciana Genro tem uma grande virtude: ela pensa diferente.

Mas esta qualidade se converte em defeito quando você, depois de pensar diferente, age sem refletir.

Foi o que aconteceu com Luciana Genro com sua proposta de eleições gerais para 2016.

Ela tem um ponto poderoso: o apodrecimento do mundo político brasileiro. Quem poderá contestá-la?

O homem mais poderoso do país, e não é de hoje, é a quintessência da corrupção e do descaro, Eduardo Cunha.

Faz já mais de dois meses que os suíços entregaram às autoridades brasileiras provas devastadoras da roubalheira de Eduardo Cunha.

Delatores contaram histórias tenebrosas: medo de morrer caso citassem Cunha em seus depoimentos. O mesmo método terrorista de intimidar pessoas que podem causar problemas foi utilizado contra o relator da Comissão de Ética que examina o caso Cunha.

O relator narrou as ameaças que recebeu, destinadas não apenas a ele mas a membros de sua família.

E, com tudo isso, Eduardo Cunha está não na prisão, mas na presidência da Câmara, manobrando para salvar a si próprio e para derrubar um governo eleito por mais de 54 milhões de pessoas.

É dentro desse quadro que se deve entender a proposta-bomba, ou o desabafo pungente, de Luciana Genro.

Em certas situações extremas, é melhor você parar tudo para reiniciar do zero.

Pode ser este o caso brasileiro – sobretudo se o projeto de golpe se consumar.

O país será atirado a um caos social se os golpistas triunfarem. E a proposta de Luciana evita isso.

Adicionalmente, em eleições sem patrocínio de empresas, políticos como Eduardo Cunha tendem a sumir do mapa.

Do pó vieram, ao pó retornarão.

Em compensação, políticos como Jean Wyllys tenderão a se multiplicar. O fator dinheiro não mais penderá a favor de paus mandados da plutocracia.

Como não ver este cenário com entusiasmo, diante das cenas pavorosas que o Congresso apresenta todos os dias aos brasileiros?

Consigo ver Luciana Genro vibrando ao arquitetar sua ideia.

Onde ela falhou? Na execução. Primeiro, ao se precipitar, ela deixou de ganhar o apoio de seus próprios companheiros do PSOL. Não lhes apresentou o projeto. Não lhes vendeu seu sonho.

No mesmo dia em que ela postou sua proposta, Jean Wyllys já se manifestou contra. Pouco depois, o diretório nacional do PSOL fez o mesmo.

O segundo erro veio nas explicações. Luciana Genro disse que o povo, insatisfeito, não merece esperar mais três anos.

Aí ela acabou de se auto-implodir. Ora, se a cada momento que o povo estiver infeliz se realizarem eleições gerais, não faremos outra coisa que não ir às urnas.

Aí seu maior pecado: uma explicação infantil e inconsistente.

Seu projeto, embora nascido de bons propósitos, é inexequível.

Onde, a despeito de tudo, ela acertou, e muito, é no diagnóstico. O cenário é, definitivamente, desolador. E em circunstâncias extremas as melhores soluções podem ser também extremas, como ensinou Guy Fawkes, o libertário britânico que há 500 anos tentou acabar com todo o Parlamento do rei Jaime I, e não apenas figurativamente.

O debate gerado por Luciana Genro pode jogar luzes onde só existem sombras, uma vez que é inegável que ninguém consegue achar soluções para o horror em que se transformou a política brasileira.

Luciana, ao menos, tentou, e merece aplausos por isso.