
Milhares de pessoas foram às ruas de diversas cidades do México no sábado (15) para protestar contra a política de segurança do governo, que, segundo os manifestantes, fracassou em conter a escalada de violência no país.
Os atos, organizados sob a bandeira da chamada “Geração Z”, seguem o formato de outros movimentos internacionais e foram motivados, sobretudo, pelo assassinato do prefeito de Uruapan, morto a tiros durante um evento público do Dia de los Muertos em 1º de novembro. “Carlos não morreu; o governo o matou”, gritavam manifestantes na Cidade do México.
A presidente Claudia Sheinbaum questionou publicamente a legitimidade das manifestações e afirmou em sua coletiva diária que os protestos eram “inorgânicos” e “financiados”. Segundo ela, tratava-se de um movimento “promovido do exterior” contra seu governo, impulsionado por adversários da direita e por bots nas redes sociais.
Embora símbolos internacionais tenham aparecido nos atos, destacava-se, mais uma vez, a bandeira pirata do mangá japonês One Piece, hoje ícone desses protestos.
Em países como Nepal, Indonésia e Filipinas, o símbolo do pirata Monkey D. Luffy tornou-se um emblema de rebeldia e crítica aos governos. Em Katmandu, no Nepal, jovens manifestantes a fixaram nos portões do histórico palácio Singha Durbar, que pegava fogo durante os protestos que derrubaram o primeiro-ministro e desencadearam dois dias de violência.
A bandeira remete ao mangá de 1997 criado por Eiichiro Oda, cuja narrativa acompanha Luffy e sua tripulação “do Chapéu de Palha” em jornadas por liberdade, enfrentamento ao governo autoritário e busca pelos próprios sonhos. Especialistas afirmam que sua popularidade se deve ao apelo emocional da história e à mensagem de determinação diante da adversidade.
🇲🇽 Os manifestantes da “Geração Z” tentaram invadir o Palácio Presidencial na Cidade do México.
Os manifestantes portam a mesma bandeira dos piratas do One Piece vista anteriormente nas manifestações do Nepal, Bangladesh e Indonésia.pic.twitter.com/keq022ixTR
— Análise Geopolítica (@AnaliseGeopol) November 15, 2025
O símbolo ganhou força como linguagem política global. Já apareceu em protestos em Jacarta, Surabaya e Paris, sempre associado a crítica social, “combate à corrupção” e “rejeição ao sistema”. Pesquisadores de cultura pop e comunicação explicam que ícones desse tipo condensam valores e funcionam como código comum entre jovens conectados pela internet, mesmo sem compartilharem língua ou contexto local.
A adesão generalizada cria um vocabulário transnacional que facilita a mobilização e reforça o sentimento de pertencimento a uma causa global.
Além de One Piece, outros símbolos da cultura pop já foram apropriados por movimentos políticos recentes. O meme de extrema-direita Pepe the Frog foi ressignificado por manifestantes pró-democracia em Hong Kong em 2019. Já o gesto dos três dedos da série Jogos Vorazes se transformou em saudação de resistência entre jovens da Tailândia e opositores ao golpe de 2021 em Mianmar.
A força desses símbolos está justamente na capacidade de se adaptar a diferentes realidades, como ocorreu no Nepal, onde frases como “Gen Z não ficará calada” e “Seu luxo, nossa miséria” acompanhavam a bandeira do Chapéu de Palha.
Na Indonésia, o emblema de One Piece se tornou foco de disputa política quando moradores o exibiram antes das celebrações da independência. Autoridades acusaram os manifestantes de tentar dividir o país, compararam o ato à traição e mandaram confiscar bandeiras e apagar murais.

Em Surabaya, enquanto finalizava um mural com o símbolo pirata, o artista Kemas Muhammad Firdaus disse à agência Reuters que a bandeira funciona como alerta claro às autoridades: “Muitos indonésios estão hasteando a bandeira porque querem que o governo os escute.”
No centro de todas essas manifestações, permanece uma interpretação comum: jovens de diferentes países se apropriam de um ícone global para denunciar a crise social, a violência, a corrupção e governos que consideram insensíveis às suas demandas.
Independentemente das fronteiras, o Chapéu de Palha de Monkey D. Luffy virou um chamado coletivo, que os EUA estão sabendo explorar com muita competência.