Operação “E o vento levou”: PF atirou em Alckmin e Serra e acertou Aécio. Por Marco Aurélio Carone

Atualizado em 11 de abril de 2019 às 12:36
Serra, Alckmin e a Renova

A operação “E o vento levou”,  deflagrada hoje pela Polícia Federal, confirma uma denúncia feita seis anos atrás pelo Novojornal, site que eu mantive até ser retirado do ar por um movimento que uniu aliados de Aécio Neves no Ministério Público e no Judiciário de Minas Gerais.

Republico aqui graças ao Blog do Sapo, que compartilhou a nossa matéria à época, já que todo o arquivo do site, com esta e outras denúncias, desapareceram depois que a polícia invadiu a redação, apreendeu computadores e eu fui preso, com base acusação sem fundamento, da qual fui absolvido.

Mesmo assim, passei nove meses na prisão, três deles em solitária.

Se o Novojornal tivesse sido mantido no ar, talvez o caso já tivesse sido esclarecimento e outros crimes tivessem sido evitados.

Segue reportagem da época, quando Aécio Neves era apresentado pela grande imprensa como estadista que faria o Brasil crescer e acabaria com a corrupção.

Para entender a reportagem, lembre-se de que, na época, havia uma denúncia de formação de cartel para negócios a preços superfaturados com o Metrô e a CPTM, empresa ferroviária do Estado de São Paulo.

Era o famoso Trensalão de Alckmin e Serra.

Vamos à reportagem de agosto de 2013:

Caso Renova: Aécio tenta apagar rastro de R$ 4.500.000.000,00 – Investigações colocam em evidência a utilização de R$ 4,5 bilhões do patrimônio mineiro para financiar implantação na Bahia de fábrica da Alstom.

Diante do escândalo do Cartel Alstom/Siemens, começa a naufragar o projeto megalomaníaco de poder desenvolvido pelo grupo de Aécio Neves, que não encontrou limite de atuação na área de energia, ao utilizar-se do patrimônio público do Estado de Minas Gerais para elegê-lo presidente da República em 2014.

Alstom e Siemens, réus confessos no escândalo do Metrô e transporte sobre trilhos em São Paulo, tradicionais e principais financiadoras do PSDB paulista, cooptadas através de seus ex-dirigentes a integrar o projeto político de Aécio Neves através do esquema montado pela CEMIG, estão sendo vasculhadas pelo CADE e Ministério Público.

Evidente que se encontram na CEMIG as maiores irregularidades envolvendo a prática de cartel, porém a cooptação dos dirigentes das multinacionais visando evitar maiores fiscalizações ocorreram através de tentáculos no denominado “Burgo dos Neves”, formado por empresas subsidiarias integrais da CEMIG e da Light.

Diante do vazamento seletivo de participação apenas no esquema de corrupção montado na área de transporte sobre trilhos pela Alstom/Siemens em São Paulo e DF, o governador paulista Geraldo Alkimin e o ex José Serra, cientes da armadilha e contrariados com o abandono dos companheiros do PSDB nacional mandaram um recado direto a Aécio Neves ao informar que o cartel não atuou só em São Paulo, no Metrô, sua atuação estendeu-se também para as empresas de energia de diversos Estados, recomendando que sejam também elas investigadas.

Na matéria “Parte I: Cartel Siemens/Alstom nasceu em Minas Gerais”, abordamos a até então pouco explicável indicação pelo ex-governador, hoje senador Aécio Neves, do ex-presidente da Alstom José Luiz Alquéres, investigado pela prática de cartel pelo CADE, para presidir a Light, empresa adquirida pela CEMIG.

Repetindo a prática adotada na CEMIG, foi através da Light, para evitar rastro, que Aécio promoveu uma série de aquisições, sendo uma delas a empresa Renova, especializada em energia eólica. Como em relação a outras empresas, através da Renova, alianças e acordos comerciais foram celebrados apenas no intuito de gerar caixa para sua campanha, poder na política e economia dos demais Estados da Federação e a “boa vontade” das grandes corporações multinacionais.

Novojornal noticiou o fato em dezembro de 2012 na matéria “CEMIG: Consumidor mineiro financia “Império da Energia”, mostrando que a CEMIG vinha há anos criando empresas denominadas subsidiarias integrais, utilizando seu crédito, receita e patrimônio, sem levar em conta os riscos e a viabilidade econômica das mesmas.

Anteriormente, em julho de 2012, o Governo de Minas anunciava: “com investimento de R$ 1,2 bilhão, fora inaugurado, no Sudoeste da Bahia, o Complexo Eólico Alto Sertão I, um empreendimento da Renova Energia, empresa do Grupo CEMIG especializada na geração de energia renovável. Considerado o maior do gênero na América Latina, o complexo eólico irá gerar 294 MW de energia, o que representa um incremento de 29,4% na matriz eólica do país, atualmente na ordem de 1 GW.”

Localizado nos municípios baianos de Caetité, Guanambi e Igaporã, é composto por 14 parques, que tiveram sua energia comercializada para a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). São 184 aerogeradores de 1,6 MW e cada parque irá gerar até 30 MW. A energia gerada pelo Complexo Alto Sertão I é suficiente para garantir o consumo de uma cidade com 540 mil residências ou cerca de 2,16 milhões de habitantes, considerando quatro pessoas por residência”.

Ao mesmo tempo que, em julho de 2012, o Governo de Minas anunciava o investimento de R$ 1,2 bilhão na Renova, o jornal “Brasil Econômico” noticiava:

“Uma das principais parcerias do setor energético no Brasil foi anunciada nesta quarta-feira pela Renova Energia e a francesa Alstom. As companhias assinaram a carta de intenções durante evento para clientes e fornecedores em São Paulo”.

“A parceria consolida a nossa posição de liderança nesse segmento e vai gerar desenvolvimento para a região”, disse ao Brasil Econômico Marcos Costa, presidente da Alstom Brasil e vice-presidente de Global Power Sales na América Latina.

“Jerôme Pécresse, presidente mundial do setor de energias renováveis da Alstom, afirmou que a parceria coloca a companhia em uma posição diferenciada no mercado de energia na América Latina. “Esta é uma parceria ambiciosa, o maior acordo onshore da Alstom para a área eólica mundialmente. Nossa intenção é que seja um relacionamento duradouro.”

“A previsão é de que os aerogeradores comecem a ser entregues a partir de 2015, processo previsto para ser concluído entre três e quatro anos. Para a Renova, a parceria trará vantagens competitivas e financeiras, já que os geradores da Alstom sairão da fábrica a alguns quilômetros dali, o que significa menor custo com logística, maior rapidez na entrega e na manutenção”.

Em fevereiro de 2013 a revista “Veja” noticiou: “Renova fecha acordo de € 1 bi com Alstom e faz aposta alta em eólicas”. A matéria informava ainda que: “mesmo sem linhas de transmissão suficientes para fazer com que a energia saia dos parques eólicos, empresa fecha contrato incomum no setor: a compra de maquinário antes mesmo que haja demanda”.

“A notícia não só surpreende pelo volume do investimento (o maior anunciado pela Renova até hoje), que dimensiona o tamanho da aposta da empresa no setor eólico brasileiro, como também é uma prática incomum no mercado de energia, geralmente as empresas só contratam maquinários para atender a demanda já vendida. O acordo com a Alstom contempla também a prestação de serviços de operação e manutenção, mas não impede que, para outros projetos, a Renova contrate outros fornecedores ou que a Alstom venda para outras companhias de energia os maquinários”.

A exemplo da ferrovia do Aço, obra bilionária construída no período do golpe civil-militar de 1964, sinônimo de desperdício de dinheiro público, o Complexo Eólico Alto Sertão está sendo construído a um custo de R$4,5 bilhões para gerar energia mesmo sem a existência de linhas de transmissão para venda do produzido.

Fontes do mercado de energia já haviam denunciado que a aquisição de parte do capital da Renova ocorrido coincidentemente após a saída de Alquéres da Light, ocasião que recebeu uma indenização de R$ 30 milhões, visou apenas dar à empresa garantias para celebração de financiamentos bilionários, inclusive perante o BNDES para compra sem qualquer licitação de equipamentos da francesa Alstom, uma vez que Renova é uma empresa privada.

Até a compra da participação acionária pela Light, os geradores de energia do parque eólico da empresa Renova eram da marca GE, sendo substituídos pelos da Alstom, viabilizando a construção de uma fábrica da multinacional francesa em Camaçari, na Bahia. Segundo as mesmas fontes, a comprovação de que a lucratividade da empresa Renova passou a ser uma questão secundária, para não gerar desconfiança e repercussão, a principal cláusula do acordo de acionistas celebrado entre Renova e Light foi à retirada de suas ações da Bolsa de Valores.

Diante das investigações e da proporção que ganhou o escândalo do Cartel Alstom/Siemens, o grupo de Aécio tenta agora apagar o rastro de R$ 4,5 bilhões criado com garantias do patrimônio público do Estado de Minas Gerais para, em tese, beneficiar apenas a Alstom.

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Infelizmente, com a proibição da circulação do Novojornal pelo TJMG, as irregularidades e prejuízos consolidaram-se.

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PUBLICADO NO FACEBOOK DO NOVO JORNAL